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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

05
Ago10

CUF DAS DESCOBERTAS DESAGRADÁVEIS

shark

De um hospital privado, ao qual só têm acesso os mais abastados ou quem consiga suportar o custo de um seguro de saúde, esperamos sempre algo de semelhante ao que vemos nas inúmeras séries televisivas em ambiente hospitalar.

Bom, se na aparência o Hospital CUF das Descobertas até enche tanto a vista como o mais chique dos ER's onde gravitam os Houses deste mundo, quando sentimos (literalmente) na pele os efeitos de umas instalações à americana mas geridas à portuguesa percebemos que quando só os olhos comem o corpo é que as paga.

 

O que me levou ao CUF Descobertas, a unidade hospitalar de referência na minha zona, foi uma cólica renal. Quem já passou pela experiência ou pelo menos assistiu a quem tenha sofrido esse tipo de dor percebe que quando damos entrada na Urgência de um hospital já vamos meio enlouquecidos pela coisa e é impossível, por quanto nos esforcemos para manter alguma dignidade perante a multidão de sofredores, disfarçar a nossa pressa e a necessidade de cuidados imediatos para não prolongar um sofrimento que, no caso, é desnecessário pois basta uma injecção e o problema desaparece como que por magia.

E eu estive na urgência de um hospital privado (caro, muito caro), atarantado, sem que alguém me perguntasse ao que vinha, nomeadamente o fulano que ocupava o lugar diante de uma placa que dizia "altas" e ao seu lado ninguém a justificar a tabuleta "admissões". São minutos que se transformam em horas, enquanto o fulano vai mantendo o nariz nas suas papeladas e desvia o olhar do cenário à sua frente. Ele, o único gajo que poderia fazer algo por quem entrasse por aquela porta.

Lá tive que impor o cabedal e chamar a atenção do rapaz para a minha situação confrangedora. Antes de me perguntar qual o problema pediu-me nome, data de nascimento e número de contribuinte. E o questionário só foi interrompido quando fiz estalar o cartão do meu seguro no tampo à sua frente.

Lá me sugeriu que procurasse a enfermeira da triagem. E eu lá fui.

 

Claro que no gabinete da dita enfermeira nem moscas pousavam. E ali fiquei, de expressão alucinada, enquanto pessoas se cruzavam comigo sem que alguém se desse conta de que eu estava mesmo à rasca, por muito macho que me revelasse ao suster lágrimas e a maioria dos gemidos.

Finalmente alguém entrou no dito gabinete e, de forma pouco simpática, perguntou-me ao que vinha e eu dei o meu palpite e despachou-me para uma porta "ao fundo à esquerda". Lá estava a porta, que até dizia "acesso reservado", e lá entrei e lá me mandaram sentar na cadeira e me enfiaram no pulso um catéter (acho que se chama isso) por onde me sacaram sangue e puseram a correr soro e a substância que finalmente apaziguou o meu suplício.

 

E depois lá fiquei umas horas à espera de um TAC, com aquilo enfiado no braço sem perceber para que serviria. E fiz o dito exame e saí e esperei mais um bocado pela consulta de urologia onde descobri que o resultado do exame deveria ter ficado em meu poder para entregar ao médico e não na enfermeira de triagem como me solicitaram. Consulta interrompida e toca a ir buscar o exame às urgências porque o senhor doutor estava muito contrariado mas também muito ocupado para fazer uma chamada e pedir o dito exame que, de resto, a enfermeira da triagem imputou ao senhor doutor como fazendo parte da sua obrigação recolher. Não o fez, ninguém o fez, e uma pessoa ali anda pelos corredores com uma cena enfiada no braço e uma pulseira cor de laranja no outro porque alguém num hospital privado (e caro, muito caro) não fez o que lhe competia.

 

Abreviando a descrição deste episódio nada consentâneo com a Anatomia de Grey que esperamos encontrar ali, digo-vos que só quando já tinha a guia de marcha para fora daquela balbúrdia me ocorreu perguntar a alguém se não seria bem pensado tirar-me a cena do pulso, pois já tinham passado umas horitas desde que alguém me dissera que iria fazer falta mais tarde e, vendo bem as coisas, estando eu de saída só mesmo se fosse para algum tipo de assistência domiciliária (que a ser prestada pela competente - leia-se bonita comó - enfermeira que me retirou a coisa até nem seria má ideia de todo...).

A custo, lá me mandaram ir tirar a cena ao mesmo sítio onde a colocaram, sempre com o ar de quem leva a toda a hora com os ignorantes de merda que não percebem nada destas coisas das agulhas sem dedal.

 

E pronto, depois foi pagar (mesmo com seguro) a módica quantia de cerca de 80 euros pela caca de serviço de um dos mais badalados hospitais privados deste país cada vez mais terceiro-mundista no desleixo e na falta de vergonha.

 

Desculpem maçar-vos com estes pequenos dramas do quotidiano, mas estamos em Agosto, este ano não vou de férias e alguém tem mesmo que aturar o meu mais justificado mau humor enquanto me vejo grego para escrever este texto com um antebraço inchado do hematoma tão doloroso que nem consigo tocar-lhe sequer...

02
Ago10

SIM, HOJE É SEGUNDA-FEIRA. E ESTAMOS EM AGOSTO...

shark

Já aqui referi que não gosto de trabalhar e logo na altura fiz a ressalva indispensável para que ninguém confundisse esta afirmação comuma declaração de preguiça.

As pessoas não trabalham porque gostam mas porque é assim que tem que ser.

E aos meus olhos será hipócrita quem diga o contrário e só aceito a excepção de um gajo a quem ofereçam um cruzeiro nas Caraíbas e ele dispense o presente por preferir assentar tijolo numa empreitada qualquer.

 

Admiro essas pessoas-formiga, valiosas, excepcionais, pela sua opção corajosa. São autênticos guerreiros, dotados de enorme espírito de sacrifício e crentes de que a uma morte honrosa no campo de batalha corresponde um óbito inesperado em plena função, de preferência com a última tarefa devidamente completada para a pessoa não ter que passar pela vergonha póstuma de ter deixado algo por fazer.

Admiro e estimo, pois para além de serem as únicas que garantem o funcionamento de qualquer realidade colectiva não fazem parte da indesejável multidão que nos atafulha a praia do costume no pico do Verão.

Sim, eu que trabalho para viver sou um fã sincero de quem vive para trabalhar.

Contudo, na minha qualidade de pessoa-cigarra jamais tentarei sequer entender os contornos desse mecanismo que nos distingue uns dos outros no que toca ao espírito de missão necessário para uma pessoa normal abdicar voluntariamente de férias e de feriados ou ocupar esses dias preferencialmente a fazer algo que eu até nos dias ditos úteis evitaria. A vergarem a mola de alguma forma, para se sentirem vivos, alguns, enquanto eu desandaria de imediato para um paraíso tropical se a coisa dependesse apenas da vontade de uma pessoa.

 

Não depende, como facilmente se depreende de eu estar aqui a intervalar o meu papel profissional com esta posta temática (o tema é segunda-feira) em vez de marcar a minha ausência blogueira numa bela esplanada a limpar de sal a garganta com uma imperial bem fria enquanto espalho a vista pela flora local.

A vida, esse espaço de tempo que se reduz a ontem já foi, agora felizmente ainda é e daqui a nada será o que Deus quiser, é difícil de enfrentar, para um móinas como eu, é como um pastel de Belém. Sempre boa, mas infinitamente melhor se devidamente polvilhada com a canela da paixão e o refinado açúcar do prazer.

E nada disso consigo encontrar nestas horas a fio a cumprir o calendário social que me impõem para poder fazer parte disto tudo que a malta, os que trabalham, constrói todos os dias até ao da reforma ou o de uma pseudo-invalidez de cariz fraudulento das que rebentam com o sistema da Segurança Social como um cancro que toda a gente conhece e sabe existir mas ninguém quer saber onde deposita as suas metástases.

 

E é aqui que me aflige a contradição: respeito muito mais os que abraçam a labuta de forma honesta e se privam assim da boa vida dos que preferem fazer o que eu gostava de estar a fazer agora.

Todavia, e que se flixem os pruridos, se na questão da admiração e do respeito a minha escolha está feita continuo sem saber afinal a quem devo elogiar pelo bom senso...

02
Ago10

A POSTA NO MEIO TERMO

shark

É difícil reprimir o apelo instintivo para o endurecimento do combate ao crime, nomeadamente no agravamento das penas previstas para os crimes violentos (ou pelo menos na aplicação das mesmas na sua totalidade, sem mil pretextos para a respectiva redução) e no aumento do contingente policial presente nas ruas.

Argumentar a favor desse caminho é tão simples quanto encurralar potenciais interlocutores com a pergunta da praxe nestas coisas da justiça popular de café: e se acontecesse a alguém muito próximo de ti?

 

É difícil responder a uma pergunta assim sem enveredar pela radicalização das posições, por muita fé que se deposite no conceito de reinserção social cujos resultados, se existirem, não possuem a projecção mediática habitualmente impulsionada pelos políticos quando as coisas correm bem e o dinheiro dos nossos impostos não é pura e simplesmente esbanjado com a melhor das intenções.

A dimensão desse encurralar teórico, o engolir em seco de quem nem consegue imaginar os seus mais próximos na pele das vítimas daqueles a quem o sistema judicial parece dar vida fácil nestes dias, é proporcional à permeabilidade aos discursos mais extremistas e estes, em última análise, acabam por constituir uma ameaça ainda maior aos direitos que pretendemos salvaguardados e, paradoxalmente, à própria segurança que gostaríamos reforçada pela força da Lei e dos meios ao seu dispor para a fazer cumprir. Sobretudo no que concerne à punição.

 

A punição, essa velha tradição que conduzia os nossos pais à ordem para bater dada nas escolas aos professores (e muitos exerciam esse poder mesmo sem licença), constitui por isso o santo graal de qualquer população amedrontada por meia dúzia de crimes mais hediondos ou pelo efectivo aumento da criminalidade que se vê retratado nas parangonas dos jornais.

Mas aí deitamos um olho ao Tio Sam, esse melhor que todos em (quase) tudo e arredores, cujo sistema jurídico até possui a pena capital ao seu dispor e da dimensão e rigor do policiamento ninguém duvida e as pessoas desse american dream continuam armadas até aos dentes e com as casas transformadas em fortalezas, a maioria sem vontade alguma de saírem à rua a horas mais avançadas.

 

Postas as coisas nestes termos, é fácil de perceber que só o equilíbrio que a inteligência e o bom senso proporcionam poderão oferecer-nos uma solução para o problema.

Ou seja, nem o facilitismo, a brandura de processos normalmente atribuídos à forma de estar da Esquerda servem uma sociedade onde a criminalidade tende a tornar-se mais cruel e assustadora, nem os excessos em matéria de policiamento (sim, a privacidade é a menor das perdas associadas) ou de duração das penas (na configuração actual do sistema prisional seria o caos instalado de forma ingénua por via legislativa) garantem uma resolução do problema e até podem dar origem a outros ainda mais difíceis de controlar depois de criados (exemplos lá fora não faltam, recorde-se a França).

 

E este é apenas um dos exemplos que ilustra como existem questões tão sérias e fundamentais que jamais poderão ser lidadas com base em binómios ou dicotomias que possam arrastá-las para jogos de poder e outras teimosias.

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