ASSOMBRAÇÕES
Com o meu futuro profissional prestes a sofrer uma reviravolta cujas repercussões ainda desconheço, tento colocar os olhos num futuro alternativo mas não consigo fazer de conta que não percebo que as sequelas do passado não deixarão de me atormentar.
É nítido que por vezes ficamos reféns das situações com que a vida nos confronta, incapazes de reagir de acordo com o que acabamos por pressentir poder revelar-se uma ameaça. Apanhados nas curvas tentamos apenas acalentar ilusões, prolongando as situações até ao limite ou mesmo para lá do ponto de não retorno.
E depois arriscamos tomar as atitudes acertadas tarde demais para pelo menos nos pouparmos a males maiores.
É curioso como a vida nos ensina lições valiosas a cada pretexto e sob as mais variadas formas. Muitas vezes, cegos por emoções descabidas ou por ligações que queremos acreditar definitivas (algo de idiota no contexto dos negócios, por exemplo), deixamos que nos embale a preguiça e um torpor que nos tolda a visão dos factos diante do nosso nariz.
Aos poucos, acabamos enredados em cenários tão complicados que nem percebemos quão vulnerável se revela a nossa condição e quão dependentes estamos de terceiros e das suas conjunturas e decisões.
E basta abrirmos os olhos um pouco para percebermos que somos dispensáveis ao ponto de ainda connosco no activo já andarem a salvaguardar as opções disponíveis para a nossa substituição.
Por vezes a vida obriga-nos a dar saltos no escuro, talvez a ver se aprendemos a voar.
Mas eu acho que é apenas um truque do destino para ver se depois de caídos nos conseguimos levantar.