A POSTA NOS CARAPAUS A GALOPE
Entrei na blogosfera numa altura em que os blogues importantes já existiam.
Eram importantes porque não eram escritos por anónimos na condição e no estatuto mas apenas no primeiro destes aspectos e sempre de uma forma relativa porque a malta da blogosfera acabava por saber de quem se tratava e de imediato lincavam os blogues em causa e instalavam armas e bagagens nas respectivas caixas de comentários (quando ainda não era chique não abrir as caixas).
Nesses dias agitados dos encontros de bloggers a torto e a direito, da descoberta do fenómeno por parte daqueles que como eu viam a cena como um viveiro de gente interessante que podíamos filtrar com base no que publicavam, as celebridades do mundo analógico ainda olhavam para a coisa com alguma renitência (talvez por a saberem entulhada de ilustres desconhecidos que eram capazes de tiradas geniais que as suas mentes brilhantes seriam incapazes de produzir).
Mas lá foram aderindo, às escondidas, até ao ponto em que a blogosfera adquiriu tamanha importância que começaram a dar a cara e o nome à sua presença, salvo algumas excepções que entenderam não dar os flancos a quem julga pelo que se é e não pelo que se diz ou faz.
E num instante a blogosfera passou a ficar atolada em blogues e blogueiros importantes e às tantas já não havia tanta margem de progressão neste admirável mundo novo virtual para as figurinhas com ambição a figurões.
Foi então que as figurinhas perceberam que o grande público blogueiro, para além de representar um cagagésimo da população, não lhes conferia tanta projecção quanto isso e que a proliferação de linques para os seus espaços constituía não um sinal inequívoco de qualidade do seu trabalho mas apenas um passaporte ilusório na carola da arraia miúda, uma colagem a uma forma de estar e de ser que tanto adoravam mas o sitemeter desmentia nas ilusões de popularidade.
E então começaram a olhar com mais atenção para a blogosfera dos comuns e descobriram o potencial imenso da picardia, da calúnia, do insulto e das postas ambíguas acerca de outras figurinhas ou de temas da moda em matéria de animação da notoriedade e dos contadores.
Claro que eu podia, e se calhar devia, citar os nomes ou os nicks de a quem me refiro nesta ocasião, a quem defino dessa forma, mas não só isso é absolutamente irrelevante para o que estou a dizer como não quero que colegas que me sabem hostil à sua pala tenham que descer à blogosfera dos comuns para defenderem o seu bom nick sabendo que isso nem lhes traz votos (que na blogosfera se chamam visitas).
Sim, a blogosfera importante é a blogosfera que fala não de sexo, não de futebol, mas sim aquela onde os intelectuais falam de política.
E são esses, sobretudo os que não possuem - e os factos comprovam – méritos que os catapultem para mais altos voos ou até já voam mas baixinho, que alimentam as trocas de piropos entre blogueiros que acabam por funcionar como um excelente veículo de promoção recíproca por parte de toda uma classe alegadamente superior desta comunidade que fazemos e que integra alguns pára-quedistas (militares, profissionais, e civis, amadores) descaradamente em busca de reconhecimento do seu brilhantismo na sombra.
Entediam-me, esses palermas oportunistas que ainda por cima arrastam os verdadeiramente bons e capazes para estes tornados de circunstância em que se assanham todos em torno de um sururu qualquer e aproveitam para ajustar contas antigas com o lavar de roupa suja e a repescagem de postas de arquivo que traziam atravessadas nas gargantas virtuais.
E esse tédio não deriva, de todo, da forma (reconheço que brinquei imenso a isso) mas do conteúdo. É rebuscado, é pequenino, é cada vez mais baixo no teor.
Isso desmente a inteligência alegadamente superior dos que não entendem que uma vez iniciado o pingue-pongue das atoardas a coisa só pode descambar no subsolo da peixeirada sem qualquer serventia seja para quem for.
E é disso que trata esta posta, de carapaus que se julgam cavalos mas afinal mostram que só sabem disputar corridas em ambientes muito mais... profundos.