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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

25
Jan10

(OL)FACTOS E SONS

shark

Nem sempre estamos virados, escribas e leitores, para os temas profundos. Faz parte das nossas precisões a de desanuviar de vez em quando e para isso também um blogue pode servir.

 

Ainda assim, existem grandes questões da humanidade (pelo menos de alguma) que podem ser abordadas neste contexto de bebedeira de liberdade de expressão que a blogosfera representa onde a deixam.

E quem fala em bebedeira associa com facilidade a ideia da comezaina e daí ao tema principal desta posta vai um som. O som que as pessoas produzem quando, por alguma corrente de ar na parte da canalização a que julgo chamar-se esófago, abrem a boca e arrotam.

 

Arrotar, nesta nossa civilização ocidental com tantas regras e preceitos estapafúrdios, é algo que soa ordinário, malcriado, boçal.

Não vou aqui fazer a apologia do arroto livre e sem restrições, mas não me inibirei de chamar a vossa atenção para um claro indicador da base de sustentação hipócrita de toda esta repulsa que o acto de arrotar suscita à maioria de nós.

Em causa está o absurdo de uma pessoa arrotar sem querer (vamos partir desse pressuposto para facilitar a vossa digestão do raciocínio) e cada testemunha presente ser mimoseada com um inadequado "com licença".

Com licença?

 

Tanto quanto me ensinaram, as pessoas devem pedir licença antes de efectuarem determinado gesto e não depois de dispararem uma qualquer sonora bujarda das que são rejeitadas neste nosso mundo tão polido. Ou seja, temos aqui um paradoxo daqueles que podem provocar azia nos sistemas digestivos mais ácidos pois a boa educação insiste no tal pedido prévio de licença antes (e perdoem-me a redundância anterior - ou deveria pedir-vos licença?) e neste caso concreto recomenda que o mesmo seja levado a cabo depois.

E é aqui que sustento a hipocrisia da coisa, que aflorei mais acima, por ser mais do que evidente que é quase gozar com os outros pedir licença para algo que já ninguém pode impedir que aconteça. A pessoa cumpre em simultâneo os preceitos estipulados, manifestando uma espécie de arrependimento palerma por uma reacção natural e espontânea em determinadas condições, e por outro lado insulta os presentes com o descaramento de um pedido parecido com aqueles de licenciamento para o início de uma obra à qual, por mero acaso e assim, já só falta pintar a fachada...

 

É de fachada que se trata, claro, pois não faz sentido termos que nos responsabilizar por incidentes involuntários e que ainda por cima fazem parte dos mecanismos naturais de qualquer organismo.

Quero com isto dizer que não sendo possível o tal pedido por antecipação, no tempo devido para permitir aos outros uma palavra a dizer acerca do assunto, também não faz sentido que tenhamos que apresentar o subsequente pedido de desculpas que o "com licença" neste contexto claramente representa.

 

Mas isso leva-me a extrapolar para outros fenómenos análogos do ponto de vista da sonoridade humana e não tenho a certeza de que queiramos, escriba e leitores, abordá-los nesta ou em futuras postas...

 

 

25
Jan10

AS VIDAS DO LADO

shark

Chega-se ao escritório na vila de Moscavide numa manhã de segunda-feira e aparece a vizinha do lado horrorizada com o facto de no serão anterior lhe ter aterrado no terraço um vizinho de um dos pisos acima.
O relato do sucedido mais a hipótese de explicação para o acto tresloucado de outro homem desesperado com a forma como a vida o pressionou, pela voz da vizinha visivelmente perturbada a caminho do emprego a que não pode faltar a pretexto do seu estado de nervos e do cansaço normal de uma noite mal dormida depois de assistir de perto a uma tragédia talvez ainda maior porque o homem, com quem uma pessoa se cruzou ao longo de uma década sem mais do que meia dúzia de diálogos de circunstância, afinal sobreviveu a três pisos de voo picado e seguiu vivo para o hospital.

Entretanto acabou por morrer.

 

É mesmo segunda-feira e a semana deste edifício podia ter começado melhor.

22
Jan10

IL SILENZO

shark

Palavras demais. Deixadas à solta para saltarem de boca em boca como os beijos que as silenciam.

Palavras que arrepiam como lábios que enfatizam o toque com o calor da respiração, na pele, no coração, curto-circuito que transforma corpos inteiros em estradas para as palavras demasiadas que saturam quando ouvidas por quem já não tem espaço para as albergar nem vontade de as aturar por soarem excessivas.
Palavras banidas aos poucos por quem toma consciência da sua irrelevância na maioria das ocasiões. Mesmo quando exprimem emoções que deveriam ser todas prioritárias e nunca desnecessárias por se revelarem incapazes de cumprir o seu desígnio de transmitir aquilo que alguém sentiu ou pensou.
Palavras como gotas de água num copo que há muito transbordou. Derramadas como leite que ninguém chora porque fome só existe lá fora e a de conversa é mitigada noutro tempo ou noutro espaço qualquer.

 

Palavras que ninguém quer por serem indesejadas, sejam verdades que se preferem caladas ou apenas vontades que são mal interpretadas por quem as acha, por defeito, palavras demais.

 

E só lhes sentem a falta depois de expiradas as palavras finais.

21
Jan10

ERROS DE CASTING

shark

Um repórter da RTP, Vitor Gonçalves - se a memória não me atraiçoa, ficou ferido na sequência da réplica de sismo ocorrida ontem no Haiti.

O jornalista, em pânico, terá saltado da janela do seu quarto de hotel acabando com lesões numa perna e traumatismo crânio-encefálico.

 

O director desportivo do Sporting, Sá Pinto, andou à pancada com o levezinho (Liedson) nos balneários na sequência de uma discussão a propósito de um erro infantil do guarda-redes da equipa ocorrido num jogo com uma equipa do escalão secundário que o clube de Alvalade até ganhou.

Ao que se sabe, o goleador leonino terá tentado defender o colega perante o público que o assobiava e o Sá Pinto (célebre por ter agredido em tempos o então seleccionador nacional, Artur Jorge) não gostou.

20
Jan10

FRUTO PROIBIDO

shark

Como um gaiato obeso, guloso, diante da montra de uma pastelaria, ele olhava mas tudo fazia para reprimir qualquer manifestação do desassossego que lhe provocava a mulher mais bonita que algum dia conhecera.

 

Sorvia cada minuto em que podia privar por algum pretexto com aquela criatura perfeita que o perturbava ao ponto de lhe alterar a pulsação, de descompassar o coração com o impacto do seu encanto de menina num corpo de mulher.
No entanto, sabia ser proibido qualquer sinal ou insinuação. Reduzia à contemplação a sua iniciativa, ainda assim num esforço tremendo para esconder no olhar tudo aquilo que ela fazia disparar nos bastidores do seu emocionário.

 

Pensava-a em muitos momentos, os mesmos em que se aplicava nos esquecimentos de que necessitava para controlar o efeito daquela imagem no seu peito acelerado e no cérebro agitado que cogitava por instinto as abordagens possíveis para tentar algo mais. Coisa pouca, talvez um pouco de tempo para com ela partilhar um momento longe dos papéis que lhes competiam, das peles que vestiam no contacto institucional...

Depois a vida continuava e ele sentia sempre que tardava a seguinte ocasião em que não permitia que se fizesse ladrão por temer as consequências de um desaire quase certo, sempre que estava tão perto daquela diva ao ponto de quase lhe sentir da pele o mesmo calor que os olhos dela irradiavam sob a forma de luz.


Temia-se absurdo por se atrever capaz de ignorar tudo aquilo que traz de inconveniente a uma pessoa um avanço despropositado, de arriscar um resultado mais desastroso ainda do que o embaraço de uma recusa liminar de qualquer passo que pudesse dar noutro sentido que não o admissível naquelas circunstâncias.

Mas adivinhava as consequências da sua decisão, daquele esforço de contenção de um impulso irreprimível de forçar um milagre possível, um desfecho positivo em potência.
Aquela mulher, por coincidência, era um anjo em versão humana e quase o fazia acreditar que talvez devesse avançar um pouco mais para não se concretizar depois o pesadelo que antevia de cada vez que percebia que o tempo que os aproximava não seria duradouro, iria acabar.

 

E ele, tão perto do tesouro, já sabia que estava marcado o dia em que se esgotariam as hipóteses de o tocar.

20
Jan10

A POSTA QUE A JUSTIÇA NÃO É CEGA MAS APENAS UM NADINHA CURTA DE VISTA

shark

Um fulano com 39 anos de idade disparou à queima-roupa sobre o peito de um sexagenário, tendo este morte imediata. Até ver ficou em liberdade, obrigado ao transtorno de se apresentar duas vezes na esquadra da polícia.
Dez indivíduos foram apanhados com menos de vinte quilos de haxixe. Estão há dez dias sem poderem tomar banho, detidos em condições pouco menos do que abjectas na Bela Vista (Porto).

 

Podem vir os juristas que quiserem tentar explicar esta diferença de critérios aplicada a um assassino (alegado e mais não sei o quê) e a traficantes de drogas leves (que, ao que se sabe, não matam seja quem for).
Não sou um cidadão mais esperto do que os outros, mas na minha modesta opinião prefiro ter à solta gajos que ganham a vida a ganharem dinheiro à custa da teimosia do Estado em manter ilegal algo que poderia render impostos e fugir de imediato ao controlo das redes de tráfico do que animais capazes de dispararem uma arma de fogo sobre alguém.

 

Enoja, esta evidente caça ao homem por parte das autoridades e do sistema judicial relativamente ao crime hediondo do tráfico de cannabis porque deixa bem clara a intenção de mostrarem serviço à conta de pequenos criminosos, enquanto os traficantes das drogas que destroem vidas e andam de jacto particular não são incomodados na mesma proporção, acabando depois por revelarem em casos como o do assassino (alegado, já sei) de Ribeira da Pena a exagerada brandura de costumes que tantas vezes dá raia quando os bandalhos à solta aproveitam o ensejo para repetirem as suas façanhas.

 

Eu entendo que juízes e polícias num país como este sintam o receio normal de quem se vê obrigado a enfrentar redes de tráfico que envolvem gente poderosa que pode, por exemplo, ameaçar-lhes as famílias e não consta que exista na nossa magistratura alguém do calibre de um Baltazar Garzón (embora seja óbvio que se multiplicam os mãos largas capazes de imporem medidas de coacção que soam quase como recompensas para os prevaricadores).
Não tenho, todavia, a mesma complacência para com os pesos e as medidas com os quais tentam impressionar o pagode sempre que deitam a mão aos perigosos facínoras que trazem haxixe a bordo de traineiras para ganharem uma ninharia por comparação com os que traficam drogas duras e movimentam milhões.

 

E temo que estes indicadores exprimam uma fragilidade da Justiça que nos poderá sair muito cara no futuro, pois o tempo não atenua o problema e antes o agrava por permitir o alastramento dos tentáculos de redes cada vez mais sofisticadas e poderosas que aos poucos se apropriam de pessoas pelo medo ou pela ganância tal como instalam, ao deixarem assassinos (presumíveis inocentes, pois é) à solta, um clima crescente de impunidade que é um convite descarado à justiça pelas próprias mãos por parte das vítimas (e seus familiares) desta corja que nos ameaça.
 

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