A POSTA NOS ESPAÇOS EM BRANCO
O alívio tão evidente quando não precisa de estar presente a lembrança, o excesso de confiança que tudo pode degradar, corrosivo, com o calcanhar de Aquiles possessivo a tirar com uma mão aquilo que não deu com a outra.
A desculpa sistemática que se torna automática quando a soma das coincidências já minou as paciências dos dois lados da barricada numa batalha perdida por não existir um alvo a abater, pontapé para canto que já nem suscita um lamento mas apenas a progressiva debilidade na reacção.
A incómoda sensação de não valer a pena tentar resolver o problema que afinal parece sempre resultar de um mal menor e nunca da agonia de um amor, um equívoco entre tantos que azedam os poucos momentos do contacto possível e desviam a atenção do essencial da questão mesmo quando não sabemos sequer qual é.
A dúvida que prejudica a fé de quem não abraça o cepticismo mas precisa de ver para crer, em si própria, essa pessoa que tenta dizer em vão aquilo que lhe vai no coração mas esbarra numa muralha de pedra que espalha o azedume como regra porque acaba por trazer a lume as questões mal abordadas ou simplesmente relegadas para um amanhã distante ou nenhum.
A necessidade de abrandar, ou no mínimo de aligeirar a pressão abdicando aos poucos da vontade de reclamar e antes deixar andar ao sabor do vento o efeito provocado pelo tempo e levar menos a sério tudo aquilo que para os outros seja levado a brincar.
A certeza de não ficar com pesos na consciência apenas por aceitar a influência de factores impossíveis de controlar, agindo a todo o tempo com o sopro do vento de feição para insuflar o coração rumo ao melhor resultado final que é o da vitória total contra a saturação que se desenha na expressão e fica com as costas desnudas nas palavras acaloradas de um pequeno conflito qualquer.
O que se disser a mais serve apenas para depois alimentar a fornalha onde se reacende a tal batalha que não é preciso travar porque não existe algo a ganhar ao longo da disputa onde na prática ninguém escuta o teor da argumentação.
E essa é a melhor razão para deixar cair tudo aquilo que se possa sentir mas sirva de pretexto para questionar os factos (alegadamente) bem definidos que possam sustentar todas as certezas, dados adquiridos, e suscite as tristezas que um dia serão invocadas por quem prefira reclamar vitória por assim se sentir melhor do que reescrever, para assim prevalecer, uma história bonita de amor.