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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

31
Jan10

A POSTA NOS ESPAÇOS EM BRANCO

shark

O alívio tão evidente quando não precisa de estar presente a lembrança, o excesso de confiança que tudo pode degradar, corrosivo, com o calcanhar de Aquiles possessivo a tirar com uma mão aquilo que não deu com a outra.
A desculpa sistemática que se torna automática quando a soma das coincidências já minou as paciências dos dois lados da barricada numa batalha perdida por não existir um alvo a abater, pontapé para canto que já nem suscita um lamento mas apenas a progressiva debilidade na reacção.

 

A incómoda sensação de não valer a pena tentar resolver o problema que afinal parece sempre resultar de um mal menor e nunca da agonia de um amor, um equívoco entre tantos que azedam os poucos momentos do contacto possível e desviam a atenção do essencial da questão mesmo quando não sabemos sequer qual é.
A dúvida que prejudica a fé de quem não abraça o cepticismo mas precisa de ver para crer, em si própria, essa pessoa que tenta dizer em vão aquilo que lhe vai no coração mas esbarra numa muralha de pedra que espalha o azedume como regra porque acaba por trazer a lume as questões mal abordadas ou simplesmente relegadas para um amanhã distante ou nenhum.

 

A necessidade de abrandar, ou no mínimo de aligeirar a pressão abdicando aos poucos da vontade de reclamar e antes deixar andar ao sabor do vento o efeito provocado pelo tempo e levar menos a sério tudo aquilo que para os outros seja levado a brincar.
A certeza de não ficar com pesos na consciência apenas por aceitar a influência de factores impossíveis de controlar, agindo a todo o tempo com o sopro do vento de feição para insuflar o coração rumo ao melhor resultado final que é o da vitória total contra a saturação que se desenha na expressão e fica com as costas desnudas nas palavras acaloradas de um pequeno conflito qualquer.

O que se disser a mais serve apenas para depois alimentar a fornalha onde se reacende a tal batalha que não é preciso travar porque não existe algo a ganhar ao longo da disputa onde na prática ninguém escuta o teor da argumentação.

 

E essa é a melhor razão para deixar cair tudo aquilo que se possa sentir mas sirva de pretexto para questionar os factos (alegadamente) bem definidos que possam sustentar todas as certezas, dados adquiridos, e suscite as tristezas que um dia serão invocadas por quem prefira reclamar vitória por assim se sentir melhor do que reescrever, para assim prevalecer, uma história bonita de amor.

28
Jan10

O HELICÓPTERO E OS CARROSSÉIS

shark

Desde as 18 horas de hoje os camiões da malta dos carrosséis têm estado a fazer a vida dos moradores da zona oriental de Lisboa e dos automobilistas dos arredores num inferno.

Buzinas bem sonoras marcam a passagem da comitiva em protesto e que tem dado imenso nas (ou)vistas.

 

Curioso é o facto de um helicóptero pesado andar a seguir os camionistas por todo o lado, tendo inclusivamente mantido um foco de luz ligado à moda de Los Angeles durante boa parte da "perseguição".

Confesso que não faço ideia a quem pertence a máquina voadora e quem está a pagar o respectivo combustível. mas olho para o céu e vejo apenas um veículo de controlo e de intimidação, presumindo que não irá disparar sobre os manifestantes caso eles entendam obstruir alguma via de comunicação... 

28
Jan10

SEM SINAL DE TI

shark

Espera que te diga aquilo a que me obriga a condição masculina, a iniciativa tem que ser minha (são tradições...) ou serei desacreditado e ficarei posto de lado na tua deliberação. Espera que peça a tua mão para um beijo nas suas costas, o desejo que apostas existir no meu olhar que insiste em fugir para partes tuas que anseio ver tão nuas como a alma que (afinal não) expões.

 

Guarda para mim o que tens de mais precioso, para lá do corpo generoso, essa vontade de amar que te esforças por demonstrar pelos meios ao teu alcance e eu pareço só olhar de relance mas devoro com a ansiedade de quem aguarda cada sinal.
Torna-me indispensável, fundamental, nos teus dias e aproveita as alegrias que te dou e que compensam tudo aquilo que sou de menos positivo.

 

Espera que me torne mais activo neste caminho que precisamos percorrer, este tempo necessário para aprender o outro em toda a sua dimensão. Abre um pouco o coração e aligeira esses filtros que impedem de passar tudo aquilo que quero dar mas hesito por não confiar em mim enquanto capaz de ser assim como me precisas. Ou em ti, na tua capacidade de conviver com a verdade que me define, para lá do que se afirme nos esboços grosseiros que te permito espreitar.

 

Espera por mim num lugar onde nos saibas sossegados, para sentires os teus medos dissipados como vapor da transpiração, uma espécie de (sinais de) fumo dos corpos em ebulição que podemos soprar a dois. Deixa que fique para depois o acerto das agulhas, a devida arrumação desta informação que entulhas para mais tarde reciclares nessa estação de tratamento, esse teu filtro com que avalias os amores em cada tempo que te predispões a viver uma paixão.
Aceita o amor, essa emoção superior que te arrebata, não receies aquilo que escapa à tua atenção e que possa trair a intenção de defenderes com unhas e dentes os teus bastiões mais importantes contra traições e outras ameaças já experimentadas em tempos que são águas passadas e que se lavam com um beijo presente de um amor que seja amante no futuro também.

 

Espera que te trate sempre tão bem que me queiras, por inerência, com toda a certeza possível, afastado jamais do tempo que te reste viver.
Mas não presumas que espere eternamente sentado pela maior clareza, pela imprescindível coerência dos teus sinais que continuo sem perceber.

25
Jan10

CÚMPLICE POR OMISSÃO

shark

Sempre que num livro ou num filme me vejo confrontado com os demasiados exemplos do nível de barbárie que a História documenta, genocídio, holocausto, massacre, extermínio e tantas outras palavras que albergam horrores que ninguém deveria algum dia conhecer, não consigo evitar o jorro de lágrimas que me denuncia lamechas e me expõe à realidade da minha condição de cúmplice por omissão em quaisquer acontecimentos que uma intervenção enérgica da opinião pública pudesse evitar neste presente no qual me compete, como a qualquer pessoa, onde quer que seja, lutar por todos os meios ao alcance pela erradicação de todos os resquícios de desprezo pela vida e pela dignidade humana que possam eclodir sob capas políticas, religiosas ou outras, num ponto qualquer do planeta.

 

É difícil de gerir, o equilíbrio entre o lirismo de querer acreditar na bondade da natureza humana e o pragmatismo de actuar em força e sem contemplações contra as manifestações que desmintam esse pressuposto. É ainda mais difícil de vencer o desejo de vingança, este por si mesmo uma derrota, para sentir algum sabor a justiça no macabro prazer que qualquer retaliação faculta. É impossível, no entanto, cruzar a ténue linha que nos deita a perder enquanto pessoas de bem por incentivar o (ab)uso da força na manutenção de uma segurança tão débil quanto ilusória.
Nenhuma revolta, justa ou não, pode ser esmagada à bruta pela força das armas. O mesmo espírito dos resistentes que ao longo dos tempos enfrentaram o mal olhos nos olhos está presente nas gerações que o transmitem sob os pretextos ou atenuantes mais à mão, perpetuando-se dessa forma na memória colectiva de povos cansados de sofrer, mas calejados o bastante na arte da sobrevivência para ludibriar e combater sem tréguas, por desgaste, qualquer agressor.

 

São as lições que a História nos oferece e deveriam suscitar um alerta permanente, sempre que constem tiranias, ditaduras, regimes fanáticos em embrião que possam constituir uma ameaça que nascerá da conjuntura como da reacção à injustiça que não poderemos, igualmente, tolerar.
Matar o mal pela raiz não pode depender de operações militares cirúrgicas que decepam a esperança com a primeira vítima criança que qualquer acto de guerra possa provocar. Tal como não é razoável acreditar que alguma paz dure para sempre enquanto existirem focos de fome, de repressão, de miséria, de injustiça, de desequilíbrio tão flagrante como aquele que arrasta para a morte clandestina nas águas do Mediterrâneo milhares de cidadãos do hemisfério sul em busca de uma vida melhor que lhes negamos cá como nas suas terras de origem entregues ao caos.

 

Choro, sim, perante a dimensão do horror com que alguns dos tais episódios “irrepetíveis” conseguiram provar-nos que somos, a Humanidade, capazes de atingir. Visto a pele de pais, de filhos, de pessoas como eu que se perderam num turbilhão com que o seu tempo os armadilhou.

 

E envergonho-me, muitas vezes, do meu papel indirecto em tudo aquilo que não impeço e de que tomo conhecimento, sempre tarde demais, no conforto burguês e civilizado, dos filmes, dos livros e, pior que tudo, dos telejornais.

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