O LADO (MUITO) POSITIVO
Está outra vez um briol do caraças, o céu está cinzentão, não dá vontade de ir lá fora.
Mas que se lixe. É Domingo!!!!
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Está outra vez um briol do caraças, o céu está cinzentão, não dá vontade de ir lá fora.
Mas que se lixe. É Domingo!!!!
Foto: Shark
Tentou controlar a dor lancinante enquanto extraía do peito a seta envenenada com sentimentos contraditórios, a seta disparada pelo inimigo oculto no perímetro que tentava a custo defender.
Recusava-se a deixar morrer tudo aquilo pelo qual lutara, a esvaziar de sentido tudo o que perdera ao longo de um caminho infestado de emboscadas que o enfraqueciam mas nunca o conseguiam desarmar.
Preferia sempre avançar, cicatrizando as feridas no trajecto. Sentia-se cada vez mais perto do lugar que lhe competia conquistar e essa força poderosa funcionava como feitiçaria e ele abraçava a magia como uma tábua de salvação enquanto enfrentava a ondulação de um mar de tormentas. Com o medo controlado, o destino traçado não admitia recuos ou desvios e a cada passo tornava-se mais forte, capaz de desafiar a sorte e prevalecer.
Acreditava-se capaz de vencer até ao momento em que uma armadilha do tempo, que tinha como aliado, o surpreender. E agora tentava controlar a dor, ferido, num campo de batalha devastado que era o derradeiro bastião a defender. Queria continuar a combater pela causa que tantas vezes se anunciava perdida, deixar sarar mais uma ferida e seguir em frente até ao objectivo distante que agora lhe fugia sob os pés com a verdade inoculada por aquela seta envenenada que o atingira tão perto do coração, uma seta disparada à traição que o prostrou mais do que nunca naquela guerra sem quartel.
Ajoelhado no meio do seu mundo, sentia agora gelado, moribundo, o corpo virtual com que combatia todo o mal que o afligia sem cessar. Faltava-lhe a força para lutar contra um inimigo invisível, um obstáculo intransponível que se erguia diante de si como um guerreiro gigante, colossal. Dentro do perímetro sagrado, afinal. Aquele que jurara proteger sem jamais conceber a hipótese da derrota.
No mar afundava-se a frota e no céu já não distinguia os anjos que antes cerravam fileiras contra os demónios que o puxavam debaixo do chão e o arrastavam para a punição destinada a quem ousasse enfrentar os males do mundo, o tentavam levar para o buraco sem fundo de onde nunca mais pudesse sair.
Atordoado, tentou ainda assim reagir com a força que lhe restava. Ergueu no ar a sua espada e olhou de frente o adversário temível, com uma resistência impossível de entender por parte de quem o queria dissuadir de tentar, de insistir.
E enquanto o tempo passava, beneficiado pelo efeito surpresa, recuperou a força e a certeza necessárias para contra-atacar, com a coragem que fingia faltar sempre que parecia bater em retirada.
Porém, apenas pretendia ludibriado o oponente. Quando seguia, de novo, em frente o inimigo vacilava e sentia que era possível a vitória final.
Porque combatia por amor. E a esse, clarividente ou ingénuo, acreditava-o imortal.
Sempre entendi a cumplicidade como um dos requisitos fundamentais de uma relação de amizade ou de amor. Nem entendo uma relação enquanto tal, envolvendo as emoções superiores, se não existir essa ligação tão próxima que pressupõe a ausência de segredos, a partilha de dores e de alegrias, a disponibilidade permanente para acudir em qualquer tipo de anseio ou de aflição.
É extremada, bem o sei, esta minha posição. Afasta pessoas. Ninguém aceita de bom grado abrir os portões do seu castelo interior seja a quem for nos dias que correm, apenas se entreabrem nesgas nas pequenas fissuras a que nem podemos chamar janelas e só por aí pode sair ou entrar aquilo que urge filtrar para não nos sentirmos vulneráveis.
Sim, falo no plural pois também eu acabo por vestir aos poucos essa couraça, essa muralha que nos isola do outro que se torna insuportável quando nos expõe, mesmo com boas intenções, as debilidades e fraquezas que mais tememos e mais queremos ignorar.
Mas esse é o princípio do fim da tal proximidade cúmplice, criando laços que funcionam entre as pessoas como uma espécie de canal do Panamá que abre e fecha, que sobe e desce em função das conveniências individuais.
Navegamos até onde nos deixam e só quando nos interessa deixamos abrir as comportas...
O amor e a amizade como as penso e as sinto não podem funcionar assim. É algo de muito importante para mim, sentir-me especial no contexto de uma relação com alguém. Tanto quanto transmitir essa distinção às poucas pessoas a quem permito a entrada na fortaleza imaginária que também me vi obrigado a construir para me defender de canalhas que aproveitaram as defesas desguarnecidas para me destruírem a confiança, outro pilar essencial da cumplicidade que advogo e tento impor sem sucesso na esmagadora maioria das minhas relações.
O silêncio forçado, imposto, é uma gangrena pior ainda do que uma explosão disparatada na qual se diz muita coisa que não corresponde ao que sentimos de facto.
A impotência a que nos reduzem quando se fecham na concha sem explicações razoáveis só tem paralelo na dúvida que se instala acerca da verdadeira dimensão do nosso papel nessas outras vidas que aqui e além decidem alhear-se da nossa, em intermitências que abrem caminho a todo o tipo de especulação.
E essa é uma inevitável tentação quando às nossas interrogações apenas correspondem más ondas que sentimos, quando as relações são sérias e importantes, como profundas desilusões.
Foto: Shark
O fantasma aproximou-se devagar, para não se apresentar como uma assombração. Limitou-se a estender uma mão e a fingir que a tocava, mesmo sabendo que jamais ela despertava do seu torpor.
E ele sabia que os fantasmas sentem o amor mas não o conseguem transmitir a quem não pode sentir um toque de outra dimensão, na ausência do calor naquela mão transparente de um holograma ausente que se contentava em sonhá-la assim, não existia uma sensação física como ela desejaria.
O fantasma nunca passaria de uma ilusão distante, de um simulacro de amante sem substância e incapaz de a reconfortar nos momentos mais necessários. Ele fazia parte dos desejos imaginários e mesmo nessa perspectiva há muito deixara de ser activa a sua participação.
O fantasma só tinha um coração sem consistência e isso conduzia-o de forma irreversível à desistência que combatia apenas com a energia do seu amor espiritual, de uma fé alimentada pelo ritual de a observar em silêncio por detrás do seu biombo onde se entretinha a espreitar o filme onde não havia lugar para um actor tão secundário, o figurante irrisório no contexto de um guião onde a sua interpretação se resumia a compor melhor o cenário.
Em silêncio, o fantasma desnecessário na maior parte do tempo fazia de figura decorativa e nem sequer falava a quem fingia que tocava, estendendo uma mão para o vazio, uma mão que não combatia o frio e por isso de pouco ou nada valia à pessoa a quem a estendia a partir do seu universo irreal e longínquo.
Onde se assombrava com um patético e interminável solilóquio.
De acordo com a Sky News, uma mulher saltou as barreiras de protecção e deitou o Papa ao chão durante a missa desta noite.
Ora aqui está uma maneira muito diferente e radical de desejar a Sua Santidade um feliz Natal...
Foto: Shark
Depois do vendaval de ontem, nada mais restou aos três porquinhos do que participarem o sinistro à seguradora.
Foto: Shark
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