TENHAM UM ANO BOM!
Aprendi muito jovem que o único balanço em condições que um gajo pode fazer na passagem do ano é aquele que deriva da quantidade e, em boa medida, da variedade bebida.
Sim, já balancei bastante em comemorações desta natureza. Tanto balanço que cheguei a tombar sobre um dos pratos da dita cuja (da dita cuja refeição, caldo verde, por norma, que serviam algures para acompanhar a garrafa de espumante rasca nos réveillon de discoteca, não de qualquer balança como se pode inferir).
No entanto, e isto da idade tem as suas consequências, deixei de fazer balanços quando o corpo (e a mente) deixaram de se provar capazes de recuperar em poucas horas a estabilidade assim afrontada.
Sim, porque isto dos balanços não é um exercício isento de safanões, sobretudo no meio de multidões determinadas a celebrar um futuro imediato que se ambiciona risonho como forma de esquecer um passado recente onde não foram férteis as ocasiões propícias para sorrir.
A mudança de ano, por muito que seja fácil perceber que um calendário vale o que vale, constitui sempre um motivo de regozijo, um pretexto para a folia mais ou menos endiabrada que a malta gosta de desbundar.
O terceiro calhau a contar do sol completa uma órbita em redor do mesmo e o pessoal festeja a coisa e enche o peito de projectos e de boas intenções na boa fé de que não será durante a órbita seguinte que acabará abraçado a um candeeiro ou rodeado de besouros irritantes a anunciar a última bronca numa cama de hospital.
É assim e não há volta a dar.
Existe sempre um enorme conforto em podermos abrir ligeiramente a persiana do olhar e levarmos pela enésima vez na tv com o fogo de artifício em Sidney ou a bola de espelhos em Nova Iorque, mais o novo recorde madeirense para o guiness com dezenas de milhares de disparos para turista ver.
É sinal de que nem tudo correu assim tão mal e renasce a esperança de acabar a crise financeira, de melhorar a saúde da tia acamada ou de finalmente o Benfica voltar a ser campeão.
Fezadas que ambicionamos mais as promessas internas de maior determinação na conquista de objectivos irrealistas a que nos propomos sob o efeito etílico da euforia generalizada que nos contagia mesmo quando a intuição nos diz que na prática apenas vai ter início mais um ano fiscal.
Dois mil e nove está prestes a acabar, cheio de acontecimentos para passar em revista e de disparidades entre as previsões dos bruxos do costume e os factos registados na cronologia.
Faz parte da magia disto tudo, desta forma como marcamos na agenda os ciclos que nos orientam no tempo que temos para gastar.
Dois mil e dez está quase a começar.
E eu, que abomino passas e não sou apreciador de bebidas alcoólicas com borbulhas, só quero que não seja um ano pior.
E quero, isso sim, que para cada um/a de vocês que por aqui passam esteja no início um período inesquecível pelas melhores razões e que quando o sol voltar a nascer no mesmo ponto do horizonte aqui estejamos para desejar uns aos outros um 2011 ainda melhor.