Prefiro sempre o consenso ao confronto e dou-me às boas sempre que tal se revela possível e o sapo nem custa assim tanto a engolir. No entanto, partilho essa tendência com uma outra que se não a desmente pelo menos contraria: não gosto que me façam de parvo. E é aí que o caldo entorna e não há paninhos quentes que consigam limpar a trampa que faço espalhar pelo chão.
É impressionante como as pessoas agregadas num determinado grupo se unem de forma espontânea em torno de uma causa tão mesquinha como virarem-se à parte teoricamente mais fraca para, no fundo, se pouparem a confrontos com outra parte com quem acreditam não poder sair vencedores em caso de conflito.
Os rebanhos assim criados enojam-me pelo comodismo, pela ausência de princípios e, acima de tudo, pela cobardia implícita. E são frequentes ao longo do meu percurso os momentos em que me vejo isolado do grupo a que julgava pertencer apenas por contestar alguém que, sendo exterior ao dito grupo, exerce algum tipo de poder sobre o mesmo e sem qualquer razão que lhe assista acaba por “mobilizar” o bando de chimpanzés amedrontados contra um qualquer elemento que entenda revoltar-se contra um abuso ou uma negligência.
Mais uma vez, e a propósito de uma merdinha tão insignificante como o trinco de uma porta de entrada de um edifício, vejo-me na posição de outsider e terei que lutar sozinho por algo que até seria do interesse comum. Na prática, a vizinhança preferiu hostilizar-me a reclamar uma intervenção junto do respectivo senhorio, um duro que só reconhece direitos e reage mal quando lhe acenam com obrigações. E embora eu pasme sempre perante a facilidade com que a malta se organiza para boicotar um fulano contestatário em detrimento de se unirem para vergar um fulano abusador (desde que mais “poderoso”), confesso que estou sempre a contar com este tipo de reacção por parte da esmagadora maioria de merdosos que povoam o meu dia-a-dia.
E lá estou eu a comprar mais uma guerra que dificilmente poderei vencer, sozinho com a razão contra a estúpida reunião de alimárias sem tomates para reclamarem um direito que é seu enquanto pagarem uma renda mensal, tomando atitudes que os outros, esses santos tão pacatos, consideram radicais.
Mas lá está: entre a inevitável consequência e o problema de consciência nunca vou sentir, haja o que houver, que faço parte do lado perdedor.