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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Jan09

PATRIOTA DE PACOTILHA

shark

Enquanto o país gira em círculos de volta do cadáver anunciado de mais uma investigação, os ilibados, os esquecidos, os impunes e os bodes expiatórios com penas suspensas, fogo de vista, o mundo acontece lá fora e ficamos a descobrir, quase de seguida, que existe um psicopata capaz de esfaquear bebés, um desesperado capaz de matar a família toda e suicidar-se por causa de um emprego em risco e um pai capaz de mandar a própria filha de uma ponte abaixo, eu continuo a gostar de ser português.

29
Jan09

A POSTA NA CRUELDADE DE FAZER ESPERAR PELO ALÍVIO DE UM FIM

shark

O meu cão, cuja idade desconheço para lá dos cerca de 14 anos decorridos sobre a data em que o recolhi da rua, está a definhar e adivinho-lhe a morte a qualquer instante.

É muito deprimente olhar para o meu cão. Atacado por um flagelo recente nestas paragens, a leishmaniose, come-se vivo pelo efeito terrível que a doença lhe provocou na pele agora quase despida de pelugem. E agora, pela rapidez com que perde peso, deverá ter evoluído para o interior do animal acelerando a um ponto insustentável a sua degradação.

 

E porque vos incomodo com esta descrição sumária do espectáculo que me aguarda em casa todos os dias?

É simples. Porque sinto necessidade de partilhar o desconforto que me causa o espectáculo supra e, mais ainda, porque pior do que a dificuldade na locomoção e perda progressiva da visão e da audição, para além de outros detalhes que me inibo de vos descrever, pela crescente apatia presumo que o meu cão já desistiu.

Agora compete-me tomar por ele a mais difícil decisão com que me confrontou desde o momento em que tive que optar entre virar a cara e condená-lo à morte ou trazê-lo para casa e depois logo se veria.

 

Viu-se aquilo que seria de esperar num cão. Tudo de bom tirando umas macacoas e maluqueiras que vos contarei um destes dias. Um canídeo faz mais parte de um agregado familiar, está mais próximo de nós do que algumas pessoas da família do respectivo dono. Quem tem sabe bem do que estou a falar.

E agora chega a hora de ganhar coragem para colocar a questão a um veterinário, conhecendo de antemão a resposta que o estado deplorável do meu cão já grita.

O meu cão não está vivo, arrasta-se pelo final da existência sem emitir um som.

 

Tenho que equacionar a eutanásia como uma das soluções, pois não existe uma cura ou mesmo um lenitivo para aquilo que o corrói e a minha filha assiste quase todos os dias à agonia do cão que a acompanhou desde que nasceu. É doloroso perceber a impressão que isto lhe deixa.

Eu gosto muito do meu cão mas percebo que o seu silêncio não passa de um esforço que me espanta para reprimir o som da dor que o atormenta. Perante um ser humano em idênticas condições (a comparação não é tão inadmissível como alguns achem) julgo que dificilmente hesitaria, se me competisse tomar tal decisão.

 
É que eu leio o sofrimento no seu olhar.

E pela primeira vez, em mais de 14 anos, o meu cão deixou de ladrar. 

27
Jan09

QUANTO MAIS PUDERES

shark

Esse dia pode chegar sem aviso, a pretexto de um susto sério, de uma paixão inesperada ou apenas de um instante de lucidez. De repente parece que vês mais claro, descobres em ti uma força motriz que te empurra para as soluções certas e para as medidas concretas que te vês na iminência de adoptar.

Descobres no fundo que tudo na vida é tão simples quando reduzido ao mínimo denominador comum, à essência, às coisas que verdadeiramente possam interessar. Agora e amanhã, quando os balanços se fazem às coisas que se perderam por desleixo, por cobardia, por preguiça ou apenas porque optámos pelo caminho pior.
 
Essa visão aguçada surge-te quando menos o esperas, apanha-te nas curvas e pode arrastar-te para um processo de mudança irreversível que se permites descontrolado pode isolar-te de quem te rodeia por de repente deixarem de te (re)conhecer. Ou porque te hostilizam, radical, por enfrentares aquilo que entendes como um mal e sabes, ou intuis, não servir o firme propósito de seres feliz apenas porque sim e de contagiares os que te aceitem tal como és, mesmo depois de se fazerem sentir as diferenças e os sinais da mudança que exiges positiva para seja quem for essa gente em teu redor porque te queres amado pelo original e nunca pelo arquétipo de perfeição que jamais te serviu.
 
Tudo tão simples aos mesmos olhos com que viste alguém que um dia fizeste chorar com pena da tua cegueira emocional, os mesmos olhos que fechaste para não veres e não sentires aquilo que te dizem proibido por não ser assim que se faz. A fuga em frente que adivinhas fracassada no duelo entre a razão disparatada e o coração que te diz nada ser impossível quando tudo o que fazes ou dizes provém de uma pessoa equilibrada e feliz, espontânea e sincera, encaminhada pelo bom senso mas conduzida pelo amor. Renegas tal opção por instinto, depois de descoberta a verdade que se inclui a si própria no caderno de encargos das tuas atitudes futuras, da obra que queiras executar na existência de que ainda ontem restava algo mais para usufruir.
 
Esse dia pode chegar e tu não te podes pensar vacinado contra as suas consequências, preparado para todas as inerências de uma pequena revolução interior. Sobretudo não te julgues capaz de dominar o amor que se sabe selvagem e não admite jamais qualquer tipo de restrição ao que aconteça no coração só por usares também a cabeça. O preço que terás a pagar será proporcional à dimensão da asneira e oxalá tenhas uma vida inteira para a lamentar. Nem isso te garante o mesmo destino generoso que te ofereça de bandeja os dilemas que te obriguem a pensar apenas depois de avaliar o quanto de importante representam para te sentires feliz, o tal propósito tão firme que irradias quando defendes com toda a mestria uma decisão que conheces de antemão acertada.
Porque já se encontra filtrada pelos meios de que dispões e não deves nunca desperdiçar.
 
E não podes, de todo, ignorar a necessidade de te provares uma pessoa melhor, de lutares pela credibilidade da tua argumentação entregando-te de alma e coração, sem mentiras ou jogos hipócritas, com o recurso à verdade como a vês e que reflecte aquilo que és e não um simples refém de uma condição que acabas por descobrir excessiva no grau de exigência. Elimina os pesos na consciência com a ausência de gravidade no quadrante em que te situas porque sabes os passos a dar, incluindo as contrapartidas razoáveis e as garantias viáveis, e não descuidas a vontade de demonstrar o quanto é simples e bela uma vida isenta de deslealdade ou traição, bem assentes os pés no chão para afastar os fantasmas que os excessos ou os medos desnecessários possam produzir.
 
Um dia descobres que não deves fugir dos outros para poderes escapar a ti próprio quando te percebes encurralado entre decisões que precisas mesmo de tomar e sabes, ou intuis, que podem ser vitais para as tuas hipóteses de perseguires com sucesso o único objectivo que faz sentido sempre que avalias o teu papel no tempo de que possas dispor para o alcançar.
 
Um dia decides amar de uma forma incondicional, pura e genuína.

E é esse o dia em que acreditas possível a felicidade total, daquela que perdura, cristalina.

26
Jan09

A POSTA NUM TEMPO AINDA MELHOR

shark

 

Histórias do tempo que gastamos nesta vida que passamos a adiar quase tudo o que concluímos depois já não ser possível então.
Memórias de um momento em que decidimos ser agora que está na hora de ultrapassar as barreiras que nos incutem as asneiras ensinadas por gente condicionada pela palavra não.
Um tempo bem vivido quando percebemos ter sucumbido o preconceito até então mantido pelo respeito ao que o passado nos ensinou mas o presente se encarrega de desmentir. O futuro que só encaramos a sorrir quando não nos sentimos prisioneiros de moralistas e de sinaleiros amadores, tão convictos de que é o seu o único caminho acertado nos amores a percorrer. O rebanho que se perfila para obedecer, infeliz a maioria, a falta que lhe fazia a coragem necessária para forçar o destino nas poucas oportunidades concedidas para mudarmos nas nossas vidas aquilo que sentimos como uma permanente agressão interior, o grilhão tradicional.
 
A vontade de abraçar o amor prioritário, irracional, esse antídoto necessário contra a doença que se revela na progressiva indiferença perante aquilo que o dia seguinte nos possa trazer. A verdade para desfazer a desconfiança em mil pedaços de raciocínios deformados pelas suspeitas de papel. A necessidade compulsiva de abandonar o redondel que é a arena onde imolamos muito daquilo que somos em prol de um fenómeno discutível a que chamamos integração.
O grito insubordinado do coração quando nos arrasta para a revolta apaixonada contra pressupostos e convenções, a vitória das emoções primordiais sobre os medos viscerais desses alarmes que ecoam quando violamos alguma regra ou tradição.
 
Histórias do tempo de dizer não ao que sentimos incorrecto por sabermos insuspeito qualquer tipo de amor espontâneo, tão raro por não ser mais um sucedâneo com o qual se entretêm as vítimas voluntárias da chacina emocional produzida por um único mal que é o da mentira a prevalecer. A traição que acaba por desfazer os sonhos da cor das rosas de príncipes perfeitos e princesas formosas que existem apenas no imaginário popular. O amor que não se permite catalogar em determinados cacifos identificados por etiquetas a tal ponto obsoletas que a realidade ameaça soltar uma gargalhada quando enfrentamos o espelho e percebemos que aquele velho já não dispõe do tempo necessário para sonhar. Já não consegue voltar uns anos atrás e emendar aquele erro que se faz quando viramos a cara à paixão.
 
Memórias de um momento em que decidimos arriscar contra tudo o que seria de esperar nos preceitos que nos vestem algum tipo de pele que a sociedade não desdenhe se posta a nu. O tempo de aceitar que o amor tem sempre um lugar que é o seu nesta vida cuja terra prometida não pode ser conquistada amanhã ou depois.
O tempo vivido a dois.
 

O tempo partilhado, imperioso, num pedaço de vida marginal a tudo quanto lhe possa beliscar a legitimidade total à luz daquilo a que só pelo amor são obtidas (como só a ele são devidas) quaisquer explicações.

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