Eu gostava de ter encontrado algures na net uma descrição do que me esperava, pois quem lida com medos e/ou fobias não tem espaço de manobra para surpresas.
Sou, como muita gente, claustrofóbico. Isso torna-me, entre outras coisas, pouco dado a espaços apertados.
E hoje vi-me obrigado a enfrentar um exame complementar de diagnóstico chamado ressonância magnética cujo conceito, resumido, consiste em enfiarem a malta num tubo sem podermos mexer a cabeça enquanto o equipamento nos bombardeia com sons típicos das entranhas de uma automotora.
Mas isso é coisa que conseguimos saber, apanhando informação aqui em além. Porém, desiludam-se os que cultivam a imagem silenciosa e open space das maquinetas equivalentes que nos mostram nos MRI do Dr. House ou da Anatomia de Grey.
É mentira. São mais estreitas e fazem um granel do camandro. Mesmo com tampões nos ouvidos acabei por sair de dentro do tubo meio surdo.
E não estou a falar de um barulho regular ou constante. A coisa cala-se e depois berra e depois cala-se e de repente começa a berrar outra vez, ao ponto de às tantas ser impossível manter o pensamento nas beldades à beira-mar que nos desvie daquele pesadelo.
Este detalhe das beldades lembra-me que devo avisar os mais fogosos que essa é uma má aposta, pois a fatiota ridícula (uma bata feita em algo que parece mais papel do que tecido, mais um par de sapatilhas descartáveis e nada mais) não proporciona de todo à rapaziada a necessária discrição quando a gente pensa em certas imagens.
Mais vale fixar a vista da imaginação nos barquinhos no mar ao longe e ignorar de todo a visão periférica que, mesmo em pensamento, nos arrasta para o areal infestado de iguarias visuais e naqueles propósitos igualmente virtuais.
Feito o aparte mais específico para os leitores com uma pila que cumpre fazer passar despercebida nestas ocasiões, salto de imediato para o pormenor que me pareceu por si só justificar este alerta postado.
Para além do tubo apertado (durante cerca de meia hora e é se conseguirmos estar quietinhos) e da barulheira enervante, infernal, não vi referida em lado algum a cereja no topo deste bolo de sabor pouco agradável: a cabeça, para além de encaixada num suporte que lhe dá pouca ou nenhuma hipótese de se mexer, é coberta com uma espécie de máscara que transforma o dito suporte no mais próximo de uma gaiola que consigam inventar.
Basta olhá-la para a qualquer claustrofóbico faltar o ar…
O único dispositivo preparado para nos acalmar, enfim, consta de uma cena em borracha que podemos apertar com força para chamar alguém que nos impeça de flipar no interior da maquineta se a mente fraquejar.
Felizmente não sei se a coisa funciona e se de facto são rápidos a tirarem-nos daquela prisão, pois consegui aguentar aquilo até ao fim. Mas recomendo-vos que olhem bem nos olhos de quem vos apresentar o aparelho e se certifiquem de que não estará na hora do bacano ir tomar o café.
E um calmante antes do exame teria sido excelente ideia e recomendo-vos sem hesitar, sob pena de poderem acabar por nem conseguirem entrar no tal tubo.
Espero não ter dado seca aqueles a quem isto nada diz, mas esta posta é feita acima de tudo para ninguém ser apanhado desprevenido se chegar o dia em que tenham de efectuar o dito exame.
Sobretudo para a cena do “homem da máscara de ferro”, a tal gaiola apertada, é preciso tempo de preparação psicológica pois aquilo fica mesmo quase colado ao rosto de uma pessoa.
Só pode soar fácil a quem não desatine com multidões, com espaços apertados, com elevadores. E a quem, como eu, seja apanhado de surpresa e já não tenha volta a dar.