Percebo na vida lá fora o esquema das coisas, aquele que é montado por nós pessoas, os outros, claro, que montam o esquema que raramente nos serve, aos outros, a quem fica de fora, cá dentro também, e se vê na contingência de fazer opções.
Percebo na blogosfera um esquema muito parecido, senão igual. Uma decalcomania virtual desse esquema das coisas copiado da organização social dos chimpanzés. O fim da macacada para os que resistem à tentação da banana colectiva ou apenas se excluem do processo e são deixados de fora dos mecanismos de protecção, de promoção, de apoio interesseiro porque motivado apenas pela proximidade que um grupo, como uma seita, proporciona.
Fulano de tal é amigo de sicrana e por isso justifica a distinção, aquele discreto empurrão como quem não quer a coisa mas fica a aguardar a retribuição pouco tempo depois.
A reciprocidade obrigatória no topo de uma cadeia alimentar forjada, empoleirada de forma grotesca nos méritos alegados que o presente desmente e o futuro sem brilho acaba por confirmar. Mas ninguém é deixado para trás desde que insista em cumprir o seu papel até ao fim de qualquer realidade, virtual ou analógica, e logo surgirão em cena os amigos, os conhecidos, os fiéis associados de um trampolim imaginário que se constitui de forma espontânea em redor de dois ou três mais talentosos na sua arte que arrastam consigo uma pequena legião de medíocres e de bajuladores, sedentos pela pertença a um núcleo ganhador.
As aparências que contam, e muito, no discurso, na postura, nos indicadores de um qualquer pedigree que sustente mesmo de forma precária a mais valia potencial que o resto acontece por si.
Sempre as mesmas e os mesmos a protagonizar “aquilo que interessa”, nunca se afundam nos fracassos por poderem contar com o permanente colete de salvação que se constituem os seus iguais cuja utilidade melhor se evidencia quando se revelam superiores.
Lá fora como cá dentro, o mundo a girar em torno dos umbigos da moda num ciclo que se renova à custa dessa força motriz que é a ambição. Tu ajudas-me e eu deito-te a mão sempre que te topem a falta de argumentos e te deixem cair. Eu ofereço-te um novo guião e tu ressuscitas para cumprires o teu papel, reciclado, no abrilhantar da minha carreira ao colo dos amigos de conveniência que afinal são pessoas exactamente como tu, quase iguais nos objectivos e nas fragilidades que compete a todos camuflar com os retoques que se dão, em troca de uma qualquer ligação estabelecida sem nada a ver com aquilo de que sejas capaz.
Paupérrimo, o resultado, lá fora como cá dentro, mas ninguém parece querer contestar pois o mundo insiste em girar em torno dessas estrelas de circunstância que se calhar nem fazem melhor porque se encostam, porque se sentem amparadas pelos calhaus que entretanto gravitam atraídos pela luz que apenas reflectem mas já lhes permite sonhar com um futuro lugar no firmamento, travestidos de sol.
Alienados pelo sucesso da receita, ébrios pela facilidade com que os cobrem de lantejoulas para os fazerem brilhar um bocadinho e assim conseguirem parecer na terra aquilo que jamais seriam num céu em condições, esgotam-se as ilusões a cada nova tentativa a partir da catapulta improvisada pela malta mais amiga quanto mais próxima dos que se comportam como os populares de um liceu.
Contudo, como a bonança após cada temporal, ressurgem das tumbas dos seus falhanços mal explicados e recuperam o fulgor necessário para poderem honrar o compromisso, imperativo moral, da reciprocidade que deriva do cariz obrigatório da gratidão.
E a pantomima perpetua-se para gáudio do contingente de papalvos que fazem número para sugerir a multidão que legitima a sensação de poder que se torna efectivo ao fim de algum tempo na berlinda artificial que se desmistifica por si.
Por isso, e como hoje até é Natal, eu posso ficar por aqui…