Guarda enquanto puderes a memória dos dias melhores, num cofre do teu coração onde escondes a emoção ou num espaço na tua mente que albergue o (di)amante em que me quero converter, submetido ao teu calor, sempre que me facultas a entrada num momento da tua vida, nesse corpo anfitrião que convertes numa mansão quando me queres receber em ti.
Guarda que é valiosa essa recordação que sentimos amorosa quando sorrimos a reviver as imagens de tudo aquilo que acontecer no tempo de que dispusermos para nós.
Regista o som da minha voz quando te agradeço, reconhecido, este tempo partilhado que também eu cultivarei no altar do prazer que me dás e tento retribuir com o melhor de mim.
Guarda as nossas coisas assim, destacadas da confusão dos dias desperdiçados sem a sensação de um beijo ou de uma carícia, desta verdadeira delícia que podemos saborear a dois e conservar para podermos degustá-la depois, nos momentos em que soletramos a combinação inviolável e abrimos a fortaleza inexpugnável na qual protegemos o tesouro do amor que fazemos como se o mundo acabasse amanhã.
Guarda, para poderes renovar em cada manhã a intensidade das emoções desta realidade que construímos marginal a tudo quanto ouvimos dizer de menos bom acerca das relações entre as pessoas, este manancial de coisas boas que representamos um para o outro e que tentamos levar a bom porto sem encalhar numa das muitas adversidades que enfrentam todos os que arriscam conceder facilidades ao lado mais espontâneo e bonito de qualquer amor.
Guarda no teu interior o que resta de mim sempre que chegamos ao fim de mais uma jornada da relação apaixonada que insistimos manter, mesmo que pareça contrariar quem já não acredita ser possível a beleza de uma ligação que queremos invulnerável às más influências que possam fazer-se sentir lá fora, para lá do círculo desenhado em redor do nosso mundo concebido à margem das regras definidas por um rio que algures estagnou junto a uma barragem de preconceitos que lhe travou a passada.
E não guardes, por favor, qualquer tipo de hostilidade ou de rancor perante as minhas falhas reveladas, as minhas abordagens desastradas que denunciem alguma falta de consistência (que na verdade só existe numa falsa consciência na qual me pesam culpas que nem sinto merecer).
Acredita que não pretendo forçar os teus limites ou abusar daquilo que sentes, aprendida que está a lição de ser frágil o coração de quem se entrega sem defesa possível.
Acredita que apesar da minha natureza volúvel podes contar com um espaço que é só teu, enquanto alguém que me mereceu e que deve por isso confiar que também eu trato as nossas memórias partilhadas como relíquias que cuidarei de preservar, devidamente guardadas num lugar secreto deste peito aberto à tua necessidade de sustentares esse tom de esperança no teu olhar que me encurralou.
E que desde o seu primeiro (re)lance por completo me desarmou.