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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

16
Dez08

COM OLHOS DE VER

shark

Vejo nos galhos despidos de folhas a promessa de uma Primavera para acontecer. Vejo aquilo que quiser ver, para lá da imagem que o meu olhar produz à passagem pelo que consegue alcançar a minha visão.

Vejo também com o coração, pois abomino mais do que todas a cegueira emocional. Vejo o bem por detrás do mal que tantas vezes apenas reveste a fachada de uma pessoa magoada e sem força para reagir em condições ao atropelo de emoções descontroladas que a possam assoberbar.
 
Quero acreditar que o Outono não passa de uma regeneração da natureza queimada pelo Verão, humidade necessária para a refrescar nos pontos mais sensíveis da sua cútis delicada, tão seca como uma árvore desfolhada consegue exprimir.
Acredito que aquele bando de pássaros a fugir não perderá o caminho certo de volta e que não sentirei a sua falta até ao dia em que os possa ver regressar, outro tempo no mesmo lugar, no momento certo em que a cor da esperança cobrir de novo este sinistro arvoredo que dá ares de ter morrido de desgosto pelas chapadas de vento frio.
 
Mas eu vejo nas águas do rio a mensagem transmitida em qualquer Outono da vida, a certeza inabalável que passado o rigor incontornável do Inverno tudo parece renascer. Mesmo aquilo que parece morrer, como estas árvores desnudas que me despertam a saudade do calor que é minha vontade oferecer a quem consegue de alguma forma vislumbrar em qualquer inverno no meu olhar a concretização primaveril, por detrás, de um verão que assim se anuncia mas pode acontecer em qualquer dia, sobre o gelo derretido pelo calor da explosão do amor ou de uma paixão que pode surgir afinal sem aviso, como um temporal.
Ou como outra partida qualquer das que o clima pode pregar mesmo a quem julga muito bem agasalhada a sua alma recatada que de repente resolve expor-se a nu, em palavras ou mesmo mais, como as árvores nos seus humores outonais, e depois mergulha nos amores, como em cones de vulcões, em busca dos raios de sol.
 
Vejo com mais confiança aquilo de bom que me rodeia, grato, cheio de esperança, e escuto com atenção tudo aquilo que à minha volta se diz.
Vejo por detrás da realidade que às vezes se pinta madrasta a maternidade de tudo quanto basta para me obrigar a reconhecer-me feliz.

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