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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

12
Dez08

CORES QUENTES

shark

Temia-se tarado, doente mental, quando se apercebeu que até uma árvore nua lhe parecia sensual.

Mas depois deixava que o olhar percorresse, devagar, o emaranhado de galhos despidos que lhe sugeriam os corpos fundidos no meio daquele chão onde assentava a tela.
Sentia-se delirar pelas imagens que via passar no view master da sua memória lasciva, a sua tendência instintiva para descobrir em qualquer recanto natural um apelo para o seu apetite sexual descontrolado.
 
Pensava-se alucinado, quando se percebia vidrado nos contornos de uma rocha esculpida pelos caprichos do vento e lhe surgia no pensamento a silhueta de uma mulher desenhada naquele céu azul que o cobria como um lençol na cama que desfazia na cabeça que o perdia em pretextos para uma erecção despropositada, com o pincel na mão feito arma de arremesso para os falsos pudores dos mirones numa galeria qualquer.
Gostava de os chocar com a sua arte profana, a natureza insana que o seduzia, modelo disponível para os nus integrais que lhe nasciam no olhar e o faziam temer pela sanidade da sua mente que diziam doente quando soltavam as risadas nervosas perante as imagens poderosas que concebia para os perturbar.
 
Contudo, queria-se convicto de que conseguia controlar aquele instinto. Queria impedir a escalada da sua imaginação arrojada quando buscava frenético a combinação ideal das cores quentes com que soltava o lado animal da sua personalidade polémica.
Mas acabava por desistir, quando na tela começava a reproduzir as emoções que o dominavam sempre que os seus olhos pousavam numa forma que agitasse a componente libidinosa da sua mente perigosa para os que enfrentavam o sexo com base na negação, os que se envergonhavam pelo tesão inconcebível que um quadro jamais deveria provocar.
Pelo menos nas suas sensibilidades de fachada.
 
E ele insistia na lambada que lhe apetecia pintar, a natureza morta que conseguia ressuscitar com a força divina que lhe inspirava as obras que agrediam os olhares hipócritas dos que exibiam esgares de reprovação que desviavam a atenção dos outros enquanto lambiam por dentro o desejo reprimido que libertavam depois, em segredo, nos bastidores pervertidos da sua sexualidade mesquinha.
A verdade daninha nos jardins secretos das suas almas desprovidas de amor.
 
As vidas sonsas e sem cor que tentava agitar com a sua forma de pintar tão erótica, criada pela sua mente errática que inventava ou descobria o poder de uma magia que o enfeitiçava.
 
O sexo que ele pintava, nos céus pelas nuvens beijados ou nas sombras dos arbustos entrelaçados no chão.

A libertação da fantasia que contrariava quem a pretendia encarcerada numa forma expressão espartilhada pela censura travestida em fenómenos postiços de rejeição.

 

mulher arvore

Ilustração gentimente cedida pela Susete.

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