Temia-se tarado, doente mental, quando se apercebeu que até uma árvore nua lhe parecia sensual.
Mas depois deixava que o olhar percorresse, devagar, o emaranhado de galhos despidos que lhe sugeriam os corpos fundidos no meio daquele chão onde assentava a tela.
Sentia-se delirar pelas imagens que via passar no view master da sua memória lasciva, a sua tendência instintiva para descobrir em qualquer recanto natural um apelo para o seu apetite sexual descontrolado.
Pensava-se alucinado, quando se percebia vidrado nos contornos de uma rocha esculpida pelos caprichos do vento e lhe surgia no pensamento a silhueta de uma mulher desenhada naquele céu azul que o cobria como um lençol na cama que desfazia na cabeça que o perdia em pretextos para uma erecção despropositada, com o pincel na mão feito arma de arremesso para os falsos pudores dos mirones numa galeria qualquer.
Gostava de os chocar com a sua arte profana, a natureza insana que o seduzia, modelo disponível para os nus integrais que lhe nasciam no olhar e o faziam temer pela sanidade da sua mente que diziam doente quando soltavam as risadas nervosas perante as imagens poderosas que concebia para os perturbar.
Contudo, queria-se convicto de que conseguia controlar aquele instinto. Queria impedir a escalada da sua imaginação arrojada quando buscava frenético a combinação ideal das cores quentes com que soltava o lado animal da sua personalidade polémica.
Mas acabava por desistir, quando na tela começava a reproduzir as emoções que o dominavam sempre que os seus olhos pousavam numa forma que agitasse a componente libidinosa da sua mente perigosa para os que enfrentavam o sexo com base na negação, os que se envergonhavam pelo tesão inconcebível que um quadro jamais deveria provocar.
Pelo menos nas suas sensibilidades de fachada.
E ele insistia na lambada que lhe apetecia pintar, a natureza morta que conseguia ressuscitar com a força divina que lhe inspirava as obras que agrediam os olhares hipócritas dos que exibiam esgares de reprovação que desviavam a atenção dos outros enquanto lambiam por dentro o desejo reprimido que libertavam depois, em segredo, nos bastidores pervertidos da sua sexualidade mesquinha.
A verdade daninha nos jardins secretos das suas almas desprovidas de amor.
As vidas sonsas e sem cor que tentava agitar com a sua forma de pintar tão erótica, criada pela sua mente errática que inventava ou descobria o poder de uma magia que o enfeitiçava.
O sexo que ele pintava, nos céus pelas nuvens beijados ou nas sombras dos arbustos entrelaçados no chão.
A libertação da fantasia que contrariava quem a pretendia encarcerada numa forma expressão espartilhada pela censura travestida em fenómenos postiços de rejeição.
![mulher arvore]()
Ilustração gentimente cedida pela Susete.