Estás sozinha na estação, sentada, com um livro na mão e olhar pousado na linha como se estivesses a degustar uma imagem desenhada pelas palavras nas páginas que a brisa agora folheia por ti.
Estás sozinha mas pareces feliz, reajustada, com uma mala no chão preparada para a viagem que possa vir a acontecer. Como se pudesses prever o futuro pela leitura das folhas desse livro ou desenhado no bailado das que as árvores soltam arrastadas pela brisa. Essa música que escutas, interior, uma canção de amor em nada pirosa, nascida do sopro da brisa nos teus cabelos revoltos que ambiciono carentes pelo toque desta mão.
Estás sozinha na estação, levantada, o comboio no horizonte e a tua presença marcante, com olhar a deambular ao sabor da brisa que se transforma em vento, de repente, a natureza selvagem sempre presente nos cabelos agitados e nos olhos quase tapados pelos dedos da minha mão que te surpreende por detrás.
Adivinha quem sou. (E daquilo que sou capaz.)
Agora estás sozinha numa cama, deitada, ainda mal acordada, e eu vejo que sorris enquanto rodas sobre ti própria devagar, como se o tempo estivesse a parar, deslumbrante, nada surpreendida pelo som da minha voz que procuras agora calar com um beijo teu, anfitrião.
E é então que acordo eu, sozinho na estação onde me deixei dormir.
À espera do comboio que acabou de partir.