Uma das coisas menos apetecíveis que a maturidade acarreta é a progressiva tomada de consciência da confusão entre a arrogância de ter cada amanhã como um dado adquirido e a esperança de que essa certeza se veja confirmada.
Ficamos mais maduros com a experiência de vida, uns mais outros menos, e apercebemo-nos dos sinais inequívocos de que o tempo não recua senão no esforço da memória, de que ao inexorável desaparecimento da geração anterior se sucederá, dia após dia, a tomada de posição da nossa nos lugares dianteiros da fila que tão pouco tempo atrás sentimos interminável.
A maturidade esclarece-nos como é recomendável evitar o desperdício desse bem cada vez mais precioso, de o valorizar cada vez mais nessa perspectiva. E não existe nessa realidade lugar para o medo do tempo ou para qualquer tipo de angústia, não faz sentido perder o tempo a temê-lo porque passa depressa demais.
Qualquer lógica, mesmo a que deriva do terreno escorregadio de uma fé, esbarra na necessidade intuitiva de querermos usufruir da única existência que podemos ter como certa.
É esse o melhor conselho que a maturidade nos pode oferecer.
Existe, ou deveria, uma forma de sabedoria que só a passagem do tempo nos pode oferecer. É no reconhecimento dessa verdade que reside, ou deveria, o respeito e a atenção que devemos aos nossos anciãos, a par com a gratidão que cada um poderá ou não sentir relativamente aos que, para todos os efeitos, podem e devem conhecer na proximidade da despedida a glória da difusão do saber acumulado que a maturidade implica.
Dessa sabedoria faz obrigatoriamente parte a lucidez que nos diz ser urgente acarinhar o tempo de que dispomos hoje sem quaisquer veleidades acerca do tempo que acreditamos sempre disponível amanhã. Mas pode não estar, como aprendemos pelos exemplos dos que perdemos de forma súbita.
E pela simples garantia de que não existe imortalidade terrena, de que pelo menos nessa somos uma realidade perecível.
Essa certeza deveria sempre tornar inadiável o usufruto daquilo que entendemos como momentos melhores, aqueles que podemos no mínimo tentar, pois os piores aterram quase sempre de surpresa e pouco ou nada podemos fazer para os evitar. Senso comum, tudo isto. Chuva no molhado e nada mais.
Mas tudo isso em teoria.
Na prática, vejo o tempo a passar e a maioria a desperdiçar uma fortuna em depósitos sem juros na conta à ordem onde acumulam poupanças de tempo num constante adiamento das vidas a prazo incerto e sem outra remuneração possível que não a da felicidade que nos compete procurar.
O tempo é para gastar e quando armazenado azeda.
Descubro-me mais maduro quando a desculpa de que algo pode ficar para amanhã já não pega.