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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

03
Nov08

A POSTA NESTE TEMPO

shark

Uma das coisas menos apetecíveis que a maturidade acarreta é a progressiva tomada de consciência da confusão entre a arrogância de ter cada amanhã como um dado adquirido e a esperança de que essa certeza se veja confirmada.

Ficamos mais maduros com a experiência de vida, uns mais outros menos, e apercebemo-nos dos sinais inequívocos de que o tempo não recua senão no esforço da memória, de que ao inexorável desaparecimento da geração anterior se sucederá, dia após dia, a tomada de posição da nossa nos lugares dianteiros da fila que tão pouco tempo atrás sentimos interminável.
 
A maturidade esclarece-nos como é recomendável evitar o desperdício desse bem cada vez mais precioso, de o valorizar cada vez mais nessa perspectiva. E não existe nessa realidade lugar para o medo do tempo ou para qualquer tipo de angústia, não faz sentido perder o tempo a temê-lo porque passa depressa demais.
Qualquer lógica, mesmo a que deriva do terreno escorregadio de uma fé, esbarra na necessidade intuitiva de querermos usufruir da única existência que podemos ter como certa.
É esse o melhor conselho que a maturidade nos pode oferecer.
 
Existe, ou deveria, uma forma de sabedoria que só a passagem do tempo nos pode oferecer. É no reconhecimento dessa verdade que reside, ou deveria, o respeito e a atenção que devemos aos nossos anciãos, a par com a gratidão que cada um poderá ou não sentir relativamente aos que, para todos os efeitos, podem e devem conhecer na proximidade da despedida a glória da difusão do saber acumulado que a maturidade implica.
Dessa sabedoria faz obrigatoriamente parte a lucidez que nos diz ser urgente acarinhar o tempo de que dispomos hoje sem quaisquer veleidades acerca do tempo que acreditamos sempre disponível amanhã. Mas pode não estar, como aprendemos pelos exemplos dos que perdemos de forma súbita.
E pela simples garantia de que não existe imortalidade terrena, de que pelo menos nessa somos uma realidade perecível.
 
Essa certeza deveria sempre tornar inadiável o usufruto daquilo que entendemos como momentos melhores, aqueles que podemos no mínimo tentar, pois os piores aterram quase sempre de surpresa e pouco ou nada podemos fazer para os evitar. Senso comum, tudo isto. Chuva no molhado e nada mais.
 
Mas tudo isso em teoria.
Na prática, vejo o tempo a passar e a maioria a desperdiçar uma fortuna em depósitos sem juros na conta à ordem onde acumulam poupanças de tempo num constante adiamento das vidas a prazo incerto e sem outra remuneração possível que não a da felicidade que nos compete procurar.
 
O tempo é para gastar e quando armazenado azeda.

Descubro-me mais maduro quando a desculpa de que algo pode ficar para amanhã já não pega.

01
Nov08

UMA QUESTÃO DE HONRA

shark

Com um pouco de boa vontade até conseguimos levar a coisa na desportiva e acreditar que os nossos militares estão apenas a chamar a atenção para os seus problemas específicos, não deixando que o país os esqueça no meio da crise que toca a todos sem excepção.

Contudo, confesso que não admito enquanto cidadão declarações no mínimo preocupantes como a que um homem de Abril, Vasco Lourenço, ontem proferiu perante uma câmara de televisão. Se estivéssemos nos anos 60 estariam criadas as condições para um golpe militar? Mas não estamos, senhor democrata de pacotilha, e apesar de andarmos a investir em carros de combate que os militares poderiam utilizar nas nossas praças para impor a força bruta, existem centenas de milhar de armas em mãos civis e talvez o tal “golpe militar” fosse menos de caras do que pensam…
 
Estamos num tempo e num espaço em que aos militares não se podem permitir ameaças veladas de qualquer espécie, muito menos quando estas visam a própria democracia. Mesmo que possamos reconhecer como legítimas as razões de queixa que tentam impor numa lógica corporativa que, vinda de onde vem, não passa de força bruta.
Estranho até a passividade da classe política perante estas atoardas, nomeadamente por parte dos que mais se arvoram de bastiões do sistema democrático.
Nenhum espaço de manobra, nem mesmo teórico, pode ser concedido aos militares nesta matéria.
 
Das duas uma: ou o problema existe e assume proporções que justificam se necessário a demissão do próprio Ministro da Defesa, a consequência política aceitável, ou nem são tão graves assim e teremos então os nossos soldados armados em chantagistas e, considerando a confiança que neles depositamos ao conferirmos a responsabilidade pelo uso de equipamentos pagos pelos cidadãos, temos que metê-los na ordem que lhes compete preservar e jamais permitir-lhes estes laivos rufiões.
 
Não estamos nos anos 60, de facto, e os mesmos militares em quem devemos confiar para salvaguardar a estabilidade democrática, nomeadamente num contexto de imprevisibilidade pelo efeito da recessão que nos espreita, não têm o direito de vestir a farda do papão quando (talvez mais do que nunca nas últimas décadas) precisamos de contar com a disciplina no interior dos quartéis.
 
Se possuem razões de queixa expliquem-nas e divulguem-nas pelos meios ao alcance (que não são poucos), de uma forma que leve os cidadãos a exercerem a pressão necessária para que o problema se resolva.
 
E aprendam com as lições da História, pelos exemplos de exércitos a quem nem a fome levou a trair os princípios que os norteiam e os valores que lhes competem defender.
 
Sejam os heróis que a tradição vos pinta, com tudo o que isso implica, e não um factor de perturbação que nesta época e nesta conjuntura é nada menos do que inadmissível.

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