Confirmo as ameaças potenciais por detrás das reacções hostis de quem me enfrenta na contestação.
Sopesando o tom contestatário, para certificá-lo adequado aos níveis hierárquicos, aos padrões convencionais e a outros limites mais ou menos universais, sempre que reagem de forma desagradável recebo um atestado da sua pertinência.
A lógica é simplista mas tem funcionado. Quando alguém nada tem a temer e a menos que se trate de gente parva ou com manias de grandeza, pouco ou nada se perturba com qualquer tipo de contestação. Precisamente porque não faz sentido que tal aconteça, a não ser que quem contesta seja duro de ouvido e insista em demasia na sua alegada razão.
Daí que apesar dos contratempos que derivam dessa postura competitiva e da natural urticária por parte de quem sofre de alergia à mínima agitação das águas, chefes, quadros intermédios e assim, sempre abracei a estratégia da contestação como primeiro filtro para as situações que me afectam ou apenas me suscitem dúvidas.
Esta opção acarreta, como qualquer outra, vantagens e inconvenientes. Contudo, se dos aspectos negativos raramente distingo mais do que os danos de imagem costumeiros junto das ordeiras filas de espera para a tosquia, “esse gajo é um radical, está sempre a criar conflitos”, os positivos traduzem-se na proverbial revelação do gato escondido cuja cauda a minha contestação inadvertidamente (faz de conta) pisou.
Soa irritante, à partida, um gajo assumir-se contestatário aparentemente apenas porque sim. Mas esse é o erro de palmatória mais comum e tem origem na leviandade de quem presume algum tipo de arrogância nessa opção só porque a assume logicamente hostil, descartando o facto de nunca ficar “impune” uma contestação sem sustentáculo razoável.
Ou seja, quem adopta a contestação como reacção prioritária perante factos por si entendidos como necessários de esclarecer e sobretudo de corrigir faz figura de parvo se não pondera previamente as suas razões e fica a espernear no vazio quando se revela a verdade que transforma a contestação numa simples embirração.
Como em quase tudo, é o bom senso que deve presidir à veia contestatária. Deve até ser soberano na sua imposição do caminho a seguir em função das argumentações de quem defenda o alvo da contestação, seja ela qual for, e associar-se à abertura e à presença de espírito essenciais para que tal sistema funcione na perfeição no que respeita ao seu objectivo primordial.
E esse é detectar as fontes de conflito, confrontá-las naquilo que as torna inconvenientes ou desnecessárias e obter assim alguma forma de consenso que permita ultrapassar a questão.
Mas essa não é a verdadeira intenção ou até a real motivação por parte da maioria das pessoas que contestam, o que me leva a concluir que nas poucas vezes em que faço figura de parvo por contestar sem pretexto válido acabo por nem dar assim tanto nas vistas.