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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

10
Nov08

A POSTA EM PEDRA DURA

shark

Queria ser sólido como o rochedo que aguentava as investidas do mar como um forcado, sem vacilar. Mas falhava-lhe a força nos pés e acabava arrastado pelas marés para longe do seu ideal, afastava-se do areal que resultava da sua erosão interior.

Acabava fugido ao amor por não se sentir capaz de evitar o naufrágio emocional e afogava assim as ilusões numa bebedeira de azul, ao largo, o cobarde encapotado que se sentia quando finalmente se percebia tão instável como uma casca de noz em pleno oceano, o mar do norte no pico do Inverno que lhe agitava a emoção em ziguezagues que lhe desacreditavam a paixão e o condenavam ao mergulho nas profundezas em busca de solo firme para assentar.
 
Queria de alguma forma diminuir a aceleração das batidas do coração que o atraiçoava na sua demanda pela lucidez que o fizesse cair. Na real, na verdade que negava afinal quando se aproximava demais dos perigos ocultos a caminho do cais onde se firmavam as certezas às quais se mostrava avesso no contexto de um feitio tão complexo que baralhava sempre as contas.
Contudo, insistia em deixar-se levar pelas ondas, em seguir o rasto de espuma na superfície da água iluminada pelo ocaso ou pela alvorada com a persistência de um albatroz, gritava por dentro até lhe faltar a voz quando se desmoronava o sustento para a sua verdadeira intenção, quando debaixo dos pés lhe fugia o chão e descobria, pela visão distante da linha costeira, que a corrente o colocava quase sempre longe demais daquela praia imaginária que se tornara real na memória onde a imagem de um beijo salgado se repetia vezes sem fim.
 
Queria que tudo acontecesse assim, de forma natural, sem juízos de valor, sem nada de mal no amor que não a sua falta sentida por alguém a quem o quisesse oferecer.
 
Queria que a paixão nunca fizesse doer como por vezes doía.
E era por isso que partia rumo a um ponto no horizonte que apesar de tão distante na aparência se situava no interior da sua consciência do quanto o vento no rosto à beira da falésia, que parecia segredar palavras de amor, era apenas um sopro enganador como um farol à deriva na escuridão do oceano, um falso indicador da direcção mais segura para escapar aos pedaços do rochedo que o suportava no meio do breu.
 

E que entretanto, vergado pela força do tempo, finalmente cedeu.

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