Queria ser sólido como o rochedo que aguentava as investidas do mar como um forcado, sem vacilar. Mas falhava-lhe a força nos pés e acabava arrastado pelas marés para longe do seu ideal, afastava-se do areal que resultava da sua erosão interior.
Acabava fugido ao amor por não se sentir capaz de evitar o naufrágio emocional e afogava assim as ilusões numa bebedeira de azul, ao largo, o cobarde encapotado que se sentia quando finalmente se percebia tão instável como uma casca de noz em pleno oceano, o mar do norte no pico do Inverno que lhe agitava a emoção em ziguezagues que lhe desacreditavam a paixão e o condenavam ao mergulho nas profundezas em busca de solo firme para assentar.
Queria de alguma forma diminuir a aceleração das batidas do coração que o atraiçoava na sua demanda pela lucidez que o fizesse cair. Na real, na verdade que negava afinal quando se aproximava demais dos perigos ocultos a caminho do cais onde se firmavam as certezas às quais se mostrava avesso no contexto de um feitio tão complexo que baralhava sempre as contas.
Contudo, insistia em deixar-se levar pelas ondas, em seguir o rasto de espuma na superfície da água iluminada pelo ocaso ou pela alvorada com a persistência de um albatroz, gritava por dentro até lhe faltar a voz quando se desmoronava o sustento para a sua verdadeira intenção, quando debaixo dos pés lhe fugia o chão e descobria, pela visão distante da linha costeira, que a corrente o colocava quase sempre longe demais daquela praia imaginária que se tornara real na memória onde a imagem de um beijo salgado se repetia vezes sem fim.
Queria que tudo acontecesse assim, de forma natural, sem juízos de valor, sem nada de mal no amor que não a sua falta sentida por alguém a quem o quisesse oferecer.
Queria que a paixão nunca fizesse doer como por vezes doía.
E era por isso que partia rumo a um ponto no horizonte que apesar de tão distante na aparência se situava no interior da sua consciência do quanto o vento no rosto à beira da falésia, que parecia segredar palavras de amor, era apenas um sopro enganador como um farol à deriva na escuridão do oceano, um falso indicador da direcção mais segura para escapar aos pedaços do rochedo que o suportava no meio do breu.
E que entretanto, vergado pela força do tempo, finalmente cedeu.