São rostos dispostos numa parede imaginária, como posters das vedetas idolatradas, as pessoas contactadas num dado momento da existência que é sempre agora mas ansiamos presentes naquela parede, se possível, amanhã e depois.
São rostos expostos num muro da memória, como tijolos que nos constroem na dimensão social, os amigos e os amantes, os familiares mais distantes, gente conhecida que fez parte da nossa vida, mais os cromos presentes na caderneta onde o estatuto de vedeta entretanto amareleceu.
O tempo que envelheceu as motivações e embaciou aos poucos as razões que explicavam a presença desses rostos, apagando-lhes também o rasto no trilho que ficou para trás no que respeita aos pretextos para quaisquer desistências.
A parede vazia aqui e além, nos pontos críticos que denunciam as respectivas ausências.
O muro com falhas, pedaços desaparecidos, desgastados pelo tempo que corrói quando perdemos o norte e confiamos à sorte a missão de o preservar.
Buracos por onde espreitamos a saudade, a germinar nas imagens longínquas de uma amizade perdida ao longo do caminho ou mesmo na lembrança meio esbatida de uma despedida definitiva a um antigo amor no cais.
São frinchas por onde entra, manhosa, a luz da lembrança de um momento que nos evoca uma espécie de dor, de arrependimento, que o tempo provoca quando constatamos que às vezes entretemos a existência a brincar, passatempo demais…