Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

03
Nov08

A POSTA NESTE TEMPO

shark

Uma das coisas menos apetecíveis que a maturidade acarreta é a progressiva tomada de consciência da confusão entre a arrogância de ter cada amanhã como um dado adquirido e a esperança de que essa certeza se veja confirmada.

Ficamos mais maduros com a experiência de vida, uns mais outros menos, e apercebemo-nos dos sinais inequívocos de que o tempo não recua senão no esforço da memória, de que ao inexorável desaparecimento da geração anterior se sucederá, dia após dia, a tomada de posição da nossa nos lugares dianteiros da fila que tão pouco tempo atrás sentimos interminável.
 
A maturidade esclarece-nos como é recomendável evitar o desperdício desse bem cada vez mais precioso, de o valorizar cada vez mais nessa perspectiva. E não existe nessa realidade lugar para o medo do tempo ou para qualquer tipo de angústia, não faz sentido perder o tempo a temê-lo porque passa depressa demais.
Qualquer lógica, mesmo a que deriva do terreno escorregadio de uma fé, esbarra na necessidade intuitiva de querermos usufruir da única existência que podemos ter como certa.
É esse o melhor conselho que a maturidade nos pode oferecer.
 
Existe, ou deveria, uma forma de sabedoria que só a passagem do tempo nos pode oferecer. É no reconhecimento dessa verdade que reside, ou deveria, o respeito e a atenção que devemos aos nossos anciãos, a par com a gratidão que cada um poderá ou não sentir relativamente aos que, para todos os efeitos, podem e devem conhecer na proximidade da despedida a glória da difusão do saber acumulado que a maturidade implica.
Dessa sabedoria faz obrigatoriamente parte a lucidez que nos diz ser urgente acarinhar o tempo de que dispomos hoje sem quaisquer veleidades acerca do tempo que acreditamos sempre disponível amanhã. Mas pode não estar, como aprendemos pelos exemplos dos que perdemos de forma súbita.
E pela simples garantia de que não existe imortalidade terrena, de que pelo menos nessa somos uma realidade perecível.
 
Essa certeza deveria sempre tornar inadiável o usufruto daquilo que entendemos como momentos melhores, aqueles que podemos no mínimo tentar, pois os piores aterram quase sempre de surpresa e pouco ou nada podemos fazer para os evitar. Senso comum, tudo isto. Chuva no molhado e nada mais.
 
Mas tudo isso em teoria.
Na prática, vejo o tempo a passar e a maioria a desperdiçar uma fortuna em depósitos sem juros na conta à ordem onde acumulam poupanças de tempo num constante adiamento das vidas a prazo incerto e sem outra remuneração possível que não a da felicidade que nos compete procurar.
 
O tempo é para gastar e quando armazenado azeda.

Descubro-me mais maduro quando a desculpa de que algo pode ficar para amanhã já não pega.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2005
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2004
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Já lá estão?

Berço de Ouro

BERÇO DE OURO