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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

01
Nov08

UMA QUESTÃO DE HONRA

shark

Com um pouco de boa vontade até conseguimos levar a coisa na desportiva e acreditar que os nossos militares estão apenas a chamar a atenção para os seus problemas específicos, não deixando que o país os esqueça no meio da crise que toca a todos sem excepção.

Contudo, confesso que não admito enquanto cidadão declarações no mínimo preocupantes como a que um homem de Abril, Vasco Lourenço, ontem proferiu perante uma câmara de televisão. Se estivéssemos nos anos 60 estariam criadas as condições para um golpe militar? Mas não estamos, senhor democrata de pacotilha, e apesar de andarmos a investir em carros de combate que os militares poderiam utilizar nas nossas praças para impor a força bruta, existem centenas de milhar de armas em mãos civis e talvez o tal “golpe militar” fosse menos de caras do que pensam…
 
Estamos num tempo e num espaço em que aos militares não se podem permitir ameaças veladas de qualquer espécie, muito menos quando estas visam a própria democracia. Mesmo que possamos reconhecer como legítimas as razões de queixa que tentam impor numa lógica corporativa que, vinda de onde vem, não passa de força bruta.
Estranho até a passividade da classe política perante estas atoardas, nomeadamente por parte dos que mais se arvoram de bastiões do sistema democrático.
Nenhum espaço de manobra, nem mesmo teórico, pode ser concedido aos militares nesta matéria.
 
Das duas uma: ou o problema existe e assume proporções que justificam se necessário a demissão do próprio Ministro da Defesa, a consequência política aceitável, ou nem são tão graves assim e teremos então os nossos soldados armados em chantagistas e, considerando a confiança que neles depositamos ao conferirmos a responsabilidade pelo uso de equipamentos pagos pelos cidadãos, temos que metê-los na ordem que lhes compete preservar e jamais permitir-lhes estes laivos rufiões.
 
Não estamos nos anos 60, de facto, e os mesmos militares em quem devemos confiar para salvaguardar a estabilidade democrática, nomeadamente num contexto de imprevisibilidade pelo efeito da recessão que nos espreita, não têm o direito de vestir a farda do papão quando (talvez mais do que nunca nas últimas décadas) precisamos de contar com a disciplina no interior dos quartéis.
 
Se possuem razões de queixa expliquem-nas e divulguem-nas pelos meios ao alcance (que não são poucos), de uma forma que leve os cidadãos a exercerem a pressão necessária para que o problema se resolva.
 
E aprendam com as lições da História, pelos exemplos de exércitos a quem nem a fome levou a trair os princípios que os norteiam e os valores que lhes competem defender.
 
Sejam os heróis que a tradição vos pinta, com tudo o que isso implica, e não um factor de perturbação que nesta época e nesta conjuntura é nada menos do que inadmissível.

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