Percorro a escuridão da caverna iluminado apenas pelo facho imaginário do teu olhar.
Tacteio as paredes de pedra e sinto nos dedos o calor húmido do interior de um corpo que me é familiar.
Em busca do tesouro perdido no galeão naufragado em dias de temporal que soprei como um deus maligno, incapaz de reprimir a tentação de brincar com o destino e provocar um desatino irreparável daqueles que obrigam a enclausurar corações feitos de ouro, tão sensíveis, na protecção necessária.
No esconderijo de um baú.
E agora colaboro comigo num penoso castigo à procura de panaceias e de soluções afundadas a dois num desterro qualquer. O teu corpo de mulher nos meus sonhos ansiosos que cortam a respiração. Apneia do sono que doseia o engano em pequenas porções do pesadelo que assume a forma que lhe dou.
Na minha mente incomodada pela ausência de explicações para o seu constante vaguear nos mundos paralelos que constrói. Os mesmos que destrói quando se submete prostrada ao poder da razão que me explica quem sou.
A doce ilusão do teu calor, passo a passo, na penumbra de um espaço feito de sombras que abraço a fingir enquanto tento dormir acordado sem ti ao meu lado e agradeço esse flagelo que acarinho como uma lição.
Dentro de ti dentro de mim, entregue aos devaneios que me mergulham nos teus seios com a boca desenhada pela imaginação que deseja. Uma boca que te beija de lés a lés, desenfreada, à solta no céu, livre na lembrança daquilo que nunca aconteceu.
O amor que se fez na última vez em que não consegui acordar com o beliscão que julgava sonhar.
E que afinal me doeu.