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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

21
Out08

DOUTOR É NOME PRÓPRIO OU APELIDO?

shark

(…) Nos EUA, mesmo aqueles que são doutores a sério, porque fizeram um doutoramento após a licenciatura, ou são médicos, e portanto usam o título merecidamente (mas nunca como arma de arremesso para criar entre pessoas barreiras hierárquicas) logo após as primeiras palavras trocadas insistem que os tratemos por Bob, ou Jim, ou Phil. Sumidades como o Professor Dr. Robert Burgelmann, uma luminária da escola de negócios da Universidade de Stanford, pessoa com créditos firmados e reconhecimento internacional, disse-me quando eu me dirigi pela primeiríssima vez a ele, com a devida vénia e respeito, que me deixasse de tretas e o tratasse por Robert! Que Doutor, que Professor, qual carapuça.

Aqui as teias de aranha teimam em permanecer nos neurónios cerebrais. Alguns dos nossos licenciados ainda acham que é o título que os torna gente importante ou superior a quem, por exemplo, com um mero 5º ano liceal dos de antigamente (saíam melhor preparados que muitos “Doutores” hoje), tem uma vida inteira de experiência na sua profissão, e portanto é possuidor de um capital intelectual que nenhum canudo de recém-licenciado substitui. Se soubessem a figura lamentável que fazem… Uma geração no mínimo, é essa a minha aposta. Vamos precisar de uma geração para acabar com essa aberração. Os meus amigos mais pessimistas falam de três… (…)
 
José António de Sousa, licenciado, CEO da Liberty Seguros, in Revista Liberty em Acção.
 
 
Escolhi este trecho assinado por alguém a quem reconheço o mérito de ser o CEO de uma Seguradora que mais admiro e respeito. E nem sequer trabalho com a empresa em causa, o que me isenta da suspeita de “favores” ou outras coisas mesquinhas que as pessoas invocam para tentarem “justificar” este tipo de citações.
O homem é um espectáculo e o resto são fait-divers.
E o trecho em causa serve para pegar no tema sem que a minha condição de não licenciado (oito anos de propinas pró boneco…) possa ser trazida à baila como explicação para a minha opinião na matéria e que coincide com a do doutor que citei.
 
Ninguém pode duvidar da minha perfeita noção do esforço investido seja por quem for numa licenciatura, bem como do reconhecimento do mérito de quem a consegue completar (algo de que até hoje não fui capaz). Mas essa é uma questão acessória e serve apenas para separar as águas, para que entendam que não pretendo minimizar mas sim relativizar o valor dessa concretização.
No meu ofício é frequente ver-me confrontado com pessoas que utilizam o título, o grau académico, como nome próprio. “Fala Engenheiro A”, “sou o Doutor B” e por aí fora, tanto da parte de professores universitários como de recém-licenciados em cursos com nomes impronunciáveis tirados em universidades privadas extintas. E esse recurso visa apenas marcar a diferença entre tais interlocutores e os apenas “senhores” que lhes calham em caminho, visa apenas exibirem os galões possíveis de obter na vida civil por forma a colocarem-se num plano superior com base num pretexto artificial e antes que exista algo que possa sustentar tal pressuposto.
Equivale a pôr as pessoas na ordem, a impor uma hierarquia prévia.
 
Seria apenas arrogante e pretensiosa, esta mania tão portuga, se não constituísse igualmente um estorvo para a resolução de muitos problemas dos que exigem paridade (ou pelo menos equilíbrio) entre os intervenientes para que as coisas funcionem de facto e não fiquem inquinadas pela tal obsessão pelo estatuto que um grau académico só confere a quem se mostre um ser humano à altura.
Melhor dizendo, existem imbecis licenciados como se encontram por aí pessoas inteligentes e/ou especializadas em áreas que nenhum curso abrange de forma séria ou realista. E estas últimas nem sempre se predispõem a tolerar os bicos de pés implícitos no enfatizar de um “dr”, sobretudo quando a esse destaque não corresponde um ser humano em condições…
 
Confesso que não me perturba nem intimida o currículo académico seja de quem for. Admiro a capacidade intelectual, a bagagem cultural e tudo o resto que se presume em alguém que investiu uns anos da sua vida numa área de conhecimento específica. Contudo, admiro muito mais o calibre da formação pessoal dos outros, a firmeza de carácter, a imposição pelos factos, pelo mérito, em lugar da exigência de reconhecimento de um título que, bem vistas as coisas por quem por lá passou, pelo menos em boa parte das licenciaturas portuguesas, não requer assim tanto esforço ou mesmo tanta inteligência como seria desejável.
 
Quero com isto dizer que deveria ser óbvio para pessoas licenciadas e, teoricamente, mais inteligentes (ou pelo menos mais treinadas para pensarem as coisas) o absurdo de avançar com os títulos em riste mesmo antes de saberem com quem se deparam e de exibirem a massa de que são feitos, a idiotice de acreditarem que esses galões lhes permitem reclamar algum tipo de superioridade por inerência em vez da hostilidade mais ou menos reprimida por parte de quem os atura.
Mas não é assim tão óbvio, o que em nada abona da estrutura moral e mesmo da capacidade intelectual dos doutores e engenheiros que insistem em lidar com os outros com base nessa postura.
 
E repito, só levanto a questão porque me deparo com os engulhos que esta forma de ser licenciado cria em aspectos práticos do dia-a-dia profissional e não só. Muitas decisões erradas e conflitos desnecessários derivam da arrogância que só atrapalha quando se exige uma conjugação de esforços por parte de equipas de trabalho ou mesmo de parcerias de circunstância.
 

Por isso espero encarecidamente que os amigos mais pessimistas do meu estimado José António de Sousa percam a aposta…

21
Out08

A POSTA QUE A RAZÃO DESCONHECE

shark

O mito urbano-familiar, eu não afianço porque ainda nem sabia falar, reza que numa altura em que já duvidavam das minhas faculdades motoras (com mais de dois anos e mal gatinhava) topei duas vizinhas na porta do lado e quando elas se piraram para casa apoiei-me na parede, levantei-me e, para espanto dos adultos presentes, caminhei na pirisga atrás delas.

A ser verdade, as duas manas do quinto esquerdo terão sido a primeira das minhas inúmeras paixões.
 
Há pessoas assim e pessoas assado, cada um de nós com as suas características e motivações. E existem as que cedem mais às paixões, que são mais vulneráveis à atracção de uma voz quente, de um diálogo inteligente, de um corpo escultural ou de um olhar mais sensual e se deixam encantar sem apelo. Mesmo quando adivinham o cariz efémero ou mesmo turbulento dessa súbita emoção.
É poderoso, o efeito de uma paixão, e desarma por completo as parcas defesas que o bom senso tenta incutir em vão com a sua abordagem racional. Precisamente porque quando nos apaixonamos a sério nunca pensamos em verdades ou consequências, deixamo-nos arrastar por essa força maior que rasga sulcos nos obstáculos como uma imparável enxurrada.
 
Há pessoas como eu, reféns da paixão como um sopro de vida. Nem melhores nem piores do que as outras, mais conturbadas na maioria as existências de quem é assim porque calha e não por alguma espécie de escolha emocional. É assim porque algo em mim o exige, não se pensa, não se quer, mas acontece quando menos se espera e arrasa toda a lógica subsequente ao último fracasso amoroso, as lições de vida, ou mesmo ao turbilhão em que o quotidiano se pode transformar quando a conjuntura é desfavorável.
 
No entanto, passada a dor de qualquer separação fica-nos a lembrança do melhor que uma paixão acarreta. O tempo é aliado do amor porque o imortaliza, porque sempre que ele acaba cicatriza cada ferida passada e nela abre caminho para novos romances na sinopse optimista daqueles que terminaram mas valeram sempre a pena pela emoção.
É esse o efeito da paixão naqueles que cultivam o amor como uma razão para viver, mais premente do que qualquer outra.
É essa a droga que vicia, a adrenalina da emoção. E o brilho no olhar. E o sorriso especial. E o arrepio do primeiro contacto com uma pele. E a vontade de escutar para sempre aquela voz, de conhecer aquela pessoa por dentro e por fora, de parar o mundo em volta se ele perturbar a magia instalada no interior da bolha imaginária onde acontece tudo aquilo que merece atenção.
 
Há quem consiga domesticar o coração, sobreviver à ausência desses estímulos, direccionar os sentidos e a vontade para as mais variadas alternativas, o amor pelos filhos, o objectivo de carreira, mesmo tendo consciência da falta que a emoção mais forte nos faz. E há quem não consiga de todo, é tão simples assim.
E nada tem de censurável como de pouco vale a alguém para se gabar.
 
Eu preciso de me apaixonar todos os dias e de receber o meu quinhão da estimulante paixão retribuída.
É a minha forma de gostar da vida, de encontrar na realidade um sustento para tudo o que penso de mim. E será essa a minha verdade até ao momento do fim.

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