Dei com o assunto no Certamente!, um dos meus viveiros de insólitos, e só tenho pena de não possuir o sentido de humor necessário para debochar com a cena.
Isso tem uma explicação muito simples: no tempo em que eu tentava ser Jornalista as coisas também se passavam assim e um gajo trabalhava de borla até os patrões todo-poderosos se condoerem, mas hoje o descaramento é ainda maior.
Ou seja, senti na pele essa sensação desagradável de uma pessoa trabalhar por favor, porque a deixam, só para poder perseguir o sonho de um dia poder vir a ser a pagantes aquilo que já é à borla.
No meu caso concreto acabei por abdicar do sonho de ser pela realidade de ter (daquilo com que se pagam os melões), pois um tipo aos vinte e poucos começa a precisar de uns trocos para ter o que se possa chamar de uma vida normal.
E também porque o compromisso da verdade acabou por se revelar uma farsa.
Contudo, é mesmo desta lata descomunal de uma revista propor um ano de estágio não remunerado(!) a recém-licenciados em Comunicação Social que quero falar. Ainda por cima são exigentes e querem doutores gratuitos e com pedigree, perdão, com currículo enquanto donos de animais de estimação.
Pois eu tenho um cão e já tive um outro, dois gatos, dois coelhos, um melro, vários canários e periquitos, bichos-da-seda, um peixinho dourado e até um camaleão.
Só não possuo a licenciatura recente e o desespero necessário para aceitar um insulto que, por ser de borla, nem uma esmola se pode considerar.
Lamento imenso que possam existir candidatos ao lugar, sinal de que é cada vez mais frustrante o resultado final do investimento na formação dita superior e de que o talento já nem faz parte dos requisitos para a função. Afinal basta ter tido um cão. E estar disposto a trabalhar pelo mesmo salário que o animal iria auferir se soubesse fazer a mesma coisa, nestum.
É revoltante e por isso não consigo escrever uma posta com piada, a debochar com estes “empresários” da Comunicação Social que se governam à conta dos resultados obtidos pelo esforço de terceiros que exploram de forma tão descarada.
A minha vontade era convidá-los para irem a minha casa e, para testar a sua própria habilidade para lidarem com animais de estimação, deixá-los a sós no terraço na companhia do meu cão…