A extraterrestre desceu da sua nave espacial com um ar montes de tecnologia avançada, a nave também, e eu temi o pior.
Vinha armada, mas em boa. Que o era, o que de imediato me garantiu que a criatura mais perfeita do universo é mesmo a mais perfeita de todo o dito cujo, mas como estava enfiada numa espécie de escafandro não consegui tirar-lhe as medidas todas à primeira vista embasbacada que lhe lancei.
Leu-me os pensamentos na hora, percebi-o pelo facto de ter corado (neste caso esverdeado) segundos depois de apontar as antenas na minha direcção. Pedi-lhe desculpas por telepatia e abri os braços para a fazer sentir o calor das boas vindas à moda portuga, mas ela, estranhamente, recuou com um ar intimidado mal lhe toquei (talvez fosse por lhe ter tocado involuntariamente com outra porção de terráqueo que não os braços, uma guarda avançada de geração espontânea que de repente se criou em mim. Não sei porque ela não se abriu no assunto.).
Recuei um passo, sempre com um sorriso destinado a inspirar-lhe a confiança que os meus pensamentos demasiado terra-a-marte pudessem fazer perigar, pois conhecendo as fêmeas terrestres um gajo sabe lá do que uma marciana mais arisca e eventualmente munida de um canhangulo de raios xpto é capaz.
Pensei com muita força o cliché do “venho em paz”, mas depressa percebi que ela devia achar-me maluquinho pois quem veio foi ela e mal aterrou já tinha um macho mal habituado armado ao pingarelho como se fosse seu (dele) o controlo da situação.
E ela não tinha mesmo nada o ar de quem precisasse de ajuda para mudar um pneu do seu ovni luminoso.
Percebendo-me confuso mandou-me sentar. Ou melhor, sentou-me com a força da mente. E isso fez-me concluir que as fêmeas fazem de mim o que querem, sejam as daqui sejam as de outra galáxia qualquer. Adiante, que entretanto eu já abancava dócil como um cordeirinho e ela, soberana, já me sondava o cérebro de fio a pavio em busca de algo de útil para enriquecer a bagagem de conhecimentos obtida em diversos planetas.
Preocupou-me a demora no processo, embora me consolasse a ideia de que isso implicava haver muita informação importante. A expressão dela, contudo, parecia denunciar o oposto e por isso esforcei-me por concentrar a mente em assuntos muito intelectuais enquanto o meu olhar se perdia pelas formas magníficas que o tal escafandro permitia vislumbrar.
Fiz mal em sobrecarregar o processador com esses raciocínios simultâneos, pois a criatura alienígena acabou por abandonar o cérebro e apontou a sonda para o resto do terráqueo inteiramente à sua mercê.
Só então me senti como que violado, incapaz de me mover (só nos movimentos voluntários, graças a Deus, pois detestaria fazer má figura no meu primeiro encontro imediato do terceiro grau) e sem fazer ideia do que aquela fêmea do outro mundo queria fazer de mim.
Acho que abusou de mim, pois sentou-se (levitou) ao meu lado e deu-me uma seca de pensamentos acerca do remorso de ter sido infiel ao seu ex marciano num planeta com um nome esquisito, horas naquilo, e às tantas mergulhou-me numa letargia que me deixou sem tino e sabe-se lá o que me fez com todo o seu poder.
Despertei cheio de frio no meio da clareira de um bosque, com dois guardas florestais a perguntarem-me o porquê de me encontrar naqueles propósitos (calças pelos tornozelos) e a ameaçarem-me com uma coima e mais não sei o quê.
Entretanto, no céu estrelado, um rasto luminoso assinalava a despedida definitiva daquele estranho ser.
E eu acordei outra vez. Mas desta vez foi a sério.
É que sem querer acertei com o braço na garrafa de vodka, tão vazia como o outro lado da cama, e ela caiu da mesa-de-cabeceira para o meio do chão.