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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

18
Set08

PALIN VÍTIMA DE HACKERS E DA LEVIANDADE BLOGUEIRA

shark

A primeira questão que nos ocorre relativamente ao assalto dos hackers ao email pessoal da candidata republicana à vice-presidência dos EUA é a da violação da privacidade.

Contudo, essa matéria será por certo dissecada até à exaustão pela Imprensa que, de resto, não deixará de aproveitar o ensejo para pegar no assunto por outra das suas consequências visíveis, a mesma que me move nesta posta: a da publicação da informação “roubada” em diversos blogues norte-americanos.
 
A ética blogueira é foco de acesos debates desde que as primeiras broncas começaram a fazer notícia. Em causa está o confronto dos nossos direitos no âmbito da liberdade de expressão total com os limites que cada um/a deveria intuir mas só a lei consegue de facto impor, acabando assim por se abrir a porta ao controlo dos conteúdos com base em pretextos que são afinal os abusos cometidos por uma minoria de mentecaptos ou de irresponsáveis.
É nesse contexto que encaro (mais) este episódio foleiro que me prejudica enquanto blogueiro mas igualmente limita os meus direitos enquanto cidadão, por ser cada vez mais óbvia a necessidade de intervenção de uma qualquer entidade reguladora que fiscalize os abusos e distinga as águas neste mar heterogéneo e cada vez mais influente na formação de opiniões e até na tomada de decisões políticas.
 
É a velha questão das duas blogosferas, a “séria” dos que encaram isto como um novo meio de Comunicação Social (assumindo igualmente a contenção e o rigor que a pretensão de seriedade impõe) a de “brincar”, a dos que querem apenas debitar umas larachas e uns bitaites sem qualquer espécie de restrição.
São episódios como o da publicação leviana de material pirateado do computador de alguém ou os das calúnias mais ou menos impunes que de vez em quando fazem notícia os argumentos que faltam às autoridades (e ao poder político) para interferirem de forma mais directa na blogosfera e, de alguma forma, lhe cercearem algo do que tem de melhor.
Em última análise, uma vez regulamentada essa intervenção será inevitável o excesso de zelo com que alguém decidirá acerca do fecho deste ou daquele “foco de infecção” que uma blogosfera livre necessariamente produz. E essa é uma tentação irresistível para qualquer tipo de poder, mesmo o mais democrático.
 
Resumindo: a blogosfera tem cada vez mais que decidir o seu futuro antes que alguém o faça por todos nós. Ou abraçamos um estatuto mais exigente e necessariamente mais responsável, acatando regras elementares de seriedade, ou enveredamos pelo fartar vilanagem e aguentamos as consequências.
Em causa está o caminho que cada pessoa que bloga tem a obrigação de definir para esta comunidade e para o que o nosso trabalho representará para a sociedade num futuro próximo.
 

E é na diversidade de escolhas possíveis no âmbito da questão acima que se fundamentam aqueles que como eu não desdenham o traçar de uma linha bem definida que distinga a realidade factual da existência de (pelo menos) duas blogosferas em paralelo e que deixe bem claros os contornos com que cada pessoa pretende utilizar o seu espaço, acarretando a aceitação das hipotéticas regalias como dos inevitáveis contrapontos na restrição ao livre arbítrio e em matéria penal e jurídica.

18
Set08

A POSTA QUE GOSTAM DE BRINCAR ÀS ESCONDIDAS

shark

Li algures que a maioria absoluta PS votará contra uma proposta de lei para tornar possíveis os casamentos homossexuais.

Pouco me surpreende, embora me desiluda. E nisto nem sou juiz em causa própria nem pretendo vestir a pele do liberal politicamente correcto para dar a pala. Rejeitar a lei em causa equivale a um mero adiamento do inevitável e é uma atitude que só serve para dificultar (ainda mais) a vida às pessoas, interferindo com o seu direito à felicidade como entenderem experimentá-la.
 
Custa-me a entender a cobardia política inerente à posição que o PS se prepara para assumir, renegando em prol dos interesses eleitoralistas a própria essência do que entendemos como um partido de esquerda. Em causa, visto tratar-se apenas da institucionalização de algo que acontece de facto e que envolve demasiadas pessoas para que existam atenuantes para esta posição da maioria rosa, está o reconhecimento legal de uma condição que em nada afecta os cidadãos que não a subscrevam.
Ou seja, nenhum prejuízo directo será sofrido pela sociedade que não o do nojo com que alguns, a qualquer pretexto, encaram certas diferenças. E isso conduz de imediato à conclusão de que se trata de uma cedência ao preconceito e não da defesa de alguma questão de princípio.
 
A liberdade de amar é sagrada e não se compadece de quaisquer renitências, fundamentalismos ou pudores. Não é algo que se deva colocar no plano das preferências do cidadão comum, ao livre arbítrio de meras opiniões.
Nem é necessário ser a favor ou contra a existência de relações entre pessoas do mesmo sexo para perceber que ninguém tem o direito de interferir nas escolhas dos outros só porque sim. A lei não obriga seja quem for a aceitar sequer um convite para as cerimónias matrimoniais gay…
Por outro lado, não estamos a falar dos “sagrados laços” do matrimónio mas apenas da assumpção jurídica do estatuto de cidadãos livres e iguais aos outros, o respeito pela diferença que nos merecem os que já sofrem na pele as variadas e cruéis variantes de discriminação que esta rejeição do projecto de lei acentua (pelo beneplácito do poder).
 
Enquanto heterossexual poderia optar pelo estar-me nas tintas, mas na pele de cidadão jamais pactuarei com esta tendência hipócrita para negar aos outros a validade das suas opções só porque me contrariam e a dignidade das instituições só pelo prazer mesquinho de os/as privar das suas realidades que preferimos escondidas.
Têm vergonha (ou medo) de quê?
Repito que se trata de escolhas que nem o são, pois somos o que somos e existem apelos e instintos que não conseguimos rejeitar. As pessoas não podem camuflar as suas emoções, os seus desejos. E têm o direito de amar quem o coração lhes mandar, livres do crivo censório de quem não tem mesmo nada a ver com o assunto.
 
Uma legislação desadequada é um factor de perturbação social, pois as mentalidades formam-se em boa medida com base no espírito que a lei reflicta.
Nesse sentido, a mensagem que o Parlamento transmitirá quando e se concretizar a sua recusa é a pior possível e constitui um retrocesso naquilo que, para todos os efeitos, constitui o progresso ideológico e a natural mudança nos costumes de qualquer sociedade que defenda valores (em teoria) que tentam desacreditar os maus exemplos que ilustram o lado negro da interferência religiosa ou política na vida dos cidadãos.
É essa abertura à evolução das ideias e dos costumes que distingue o modelo de sociedade que adoptamos e não faz qualquer sentido, apenas por conveniência política – não quero acreditar que derive da posição individual dos deputados em causa, negar sem argumentos válidos (pelo menos eu não os valido com toda a certeza) um direito cuja efectivação, aos olhos de tudo o que afirmei, constitui na prática um dever para qualquer legislador que se afirme livre de seguir o caminho da sua consciência em detrimento do sinuoso percurso que a disciplina partidária acarreta nesse particular.
 

E eu vou aguardar a confirmação desta péssima notícia para o Portugal em que cada vez menos me revejo, precisamente por sentir como minhas as dores de quem é descaradamente afectado/a por estas manifestações de uma mentalidade arcaica e de uma postura bafienta.

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