![lady madonna]()
Nem sou particularmente fascinado por louras, embora não desdenhe.
Contudo, seria ingrato se não reconhecesse o mérito de uma cinquentona capaz de atrair 75 mil pessoas de um país pequeno e alegadamente em crise a um espectáculo ao vivo.
Não me ocorre um paralelo de longevidade similar desde as trancas intemporais (e monumentais) da Tina Turner.
A Madonna não é uma mulher encantadora, aos meus olhos. Nem sequer a admiro enquanto cantora, pois não faltam exemplos de vozes melhores do que a sua, nem me seduz o estilo musical que a celebrizou.
No entanto, constitui um bom exemplo de como os anos só pesam a quem aceita esse dado adquirido.
E não estou a falar dos milagres da cirurgia plástica, no caso em apreço, que embora façam toda a diferença de nada servem sem muita disciplina e uma atitude mental correcta.
É mesmo uma questão de atitude, só isso pode explicar a atracção que esta mulher-furacão destrambelhada exerce sobre pessoas de ambos os géneros.
Desempoeirada, irreverente, sem merdas. Assume-se gaja mas não dispensa o olhar de desafio, a confiança em si própria, o gosto pelo sexo livre de constrangimentos que muitos afirmam ser o elixir da juventude mas a sociedade, generalizando, condena.
É jovem porque sim, porque recusa o tempo como um factor de envelhecimento e combate-o no físico com a fortuna que pode investir na camuflagem dos seus sinais.
Mas acima de tudo combate-o no interior da sua famosa cabeça.
Olha-se para uma mulher como Madonna e salta à vista a tabuleta imaginária que nos avisa que naquela ninguém põe a pata em cima sem licença, seja no sentido figurado da dominação masculina “tradicional” ou na realidade carnal que transpira a exigência do controle das escolhas.
No contexto do progressivo acerto de contas na questão do equilíbrio entre os géneros, a loura mais célebre desde Marilyn Monroe constitui uma inspiração para milhões de pessoas por todo o planeta.
É de afirmação pessoal, de tenacidade, de independência que se trata.
Madonna tresanda a vitória sobre o bafio.
E é esta sensação olfactiva que desarma o macho mal educado em mim que ainda resta.
É essa a explicação que encontro para a minha vénia a alguém que, mal ou bem, conseguiu seguir um caminho que afirmam devasso sem por isso deixar de ser uma mulher respeitada e, como se prova pelos factos, idolatrada.
É por isso que lhe reconheço o mérito de simbolizar a diferença, a abertura de caminhos alternativos para ser mulher nestes dias.
E para ser pessoa.