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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

24
Ago08

PASSA TEMPO

shark

De repente, o tempo pode adquirir uma nova dimensão. O tempo desperdiçado em vão, em merdinhas que não valem a pena, insignificâncias que não fazem história porque não ficam na memória seja de quem for. As arrelias também, supérfluas, a reclamarem para si um tempo que deve ser gasto a sorrir enquanto a vida nos permite acreditar que o tempo nunca vai acabar e essa é afinal a mais traiçoeira das nossas ilusões.

 
Num instante, a velhice temida pode passar a uma fase apetecida pois só o tempo valioso nos permite senti-la a chegar. E o tempo pode mesmo não sobejar, às mercê das armadilhas que qualquer existência enfrenta, ditames da sorte, estatística aziaga que pode trocar as voltas ao maior dos optimistas quando entende inflamar o pavio que antes queimava ao ritmo lento a que cada dia passava quando o tempo parecia jamais se esgotar.
 
Mas o tempo, indiferente aos protagonistas de ocasião, caminha de acordo com a percepção que dele se tem. Não se perturba com o mal ou com o bem que aconteça à sua passagem, a cada um a sua viagem e tanto lhe faz onde fica a última estação ou simples apeadeiro para aqueles a quem acaba o bilhete, chamem-lhe destino ou chamem-lhe sorte, mantém o mesmo ritmo desde o dia em que começou a contar.
 
Os grãos de areia na ampulheta a escoar, implacáveis, na correria em que o tempo se lança no relógio daqueles que descobrem, de repente, que pelos caprichos terrenos ou pelos desígnios do céu a sua ampulheta encolheu e tudo na vida adquire uma nova dimensão. A vida condicionada por outro tipo de preocupação, direccionada para o usufruto do que resta, acelerada à medida do tempo que decidiu de forma súbita encurtar nos planos palermas, a longo prazo, de alguém.
 
O tempo que cada um de nós tem para deixar rasto da passagem enquanto nos iludimos com a miragem de uma eternidade conquistada depois de o fim se esboçar no instrumento de medida do tempo que nos resta de vida para usufruir.
 

O tempo que se passeia assim, misturado na areia que de repente pode parar de cair.

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