Do inefável caso Maddie, para além da terrível realidade do desaparecimento da criança (um horror para qualquer pessoa mas particularmente para uma mãe ou para um pai), ficou-me na retina o desleixo imperdoável que facilitou esse acontecimento.
Ninguém no seu juízo perfeito negligencia crianças com quatro ou menos anos de idade ao ponto de as deixar sozinhas seja onde for por períodos de tempo prolongados.
E se não é de falta de juízo que se trata será então de irresponsabilidade, de leviandade, de qualquer coisa das que não podem faltar a progenitores sob pena de os resultados serem desastrosos.
Isto a propósito da morte de um adolescente, que começou por ser uma criança de 11 anos e foi “crescendo” à medida que o tempo e as notícias foram passando, vitimado por uma bala alegadamente disparada por um agente da autoridade no cumprimento das suas funções, em Santo Antão do Tojal, no meu concelho de Loures.
Já se fala em inquéritos, em processos judiciais e numa carga de trabalhos danada para o autor do disparo fatal. Ninguém referiu ainda o detalhe de um idiota qualquer ter permitido a presença de um filho em tais circunstâncias, o facto que na prática originou a morte do rapaz e que, esse sim, deveria dar origem a uma punição severa que a Lei até contempla.
Já no caso dos pais da Maddie as autoridades decidiram descartar a negligência com base no pretexto de não ser possível aos pais preverem o perigo em causa. Um pretexto absurdo e à medida da postura Pilatos da Justiça portuguesa nesse caso em concreto, convenhamos, mas que não veste de todo uma situação em que um pai criminoso decide arrastar um filho para o que terá sido uma “lição de vida” para o petiz.
Acabou por se tornar numa lição de morte, a última, verificada na sequência de uma tentativa de atropelamento dos soldados da GNR chamados ao local para impedirem a concretização de um crime.
A morte de alguém é sempre uma tragédia e é nesse aspecto que mais incide a minha consternação. Contudo, desenha-se na Imprensa o contorno de mais uma injustiça das que garantem a impunidade dos verdadeiros bandidos e centram as atenções num homem que certamente dispensaria ver incluída no seu dia uma consequência tão nefasta para o cumprimento das suas obrigações.
Ou seja, o pai canalha passa aos poucos a ser uma vítima e o malandro do polícia que matou o menino devia ter-se limitado a protestar em voz autoritária contra os bandalhos que não só praticavam um crime como entenderam por bem transformá-lo numa espécie de ritual de iniciação de um miúdo que deveria naquela idade ter outro tipo de ocupação do seu tempo.
Esta lógica subvertida não me serve e declaro-me solidário para com a família que sofreu tão grande perda (porque permitiu uma infâmia, note-se) mas ainda mais para com o soldado (a pessoa) que terá de viver o resto dos seus dias com um pesadelo às costas e não merece de todo servir de mau exemplo seja para quem for e muito menos para os seus colegas que, quando e se algum dia me vir necessitado da sua intervenção em abono da minha segurança e dos meus, espero tenham a mesma coragem para intervir de forma eficaz e recorrendo aos meios ao seu dispor para agirem em defesa dos cidadãos que deles dependem para uma vida pacata e sem medo dos que renegam trabalhar para o seu sustento e preferem parasitar o que outros obtêm em resultado do seu esforço e que não pode ser deixado à mercê de marginais e de calões.