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Ago08
ENQUANTO PUDERES
shark
Olhos que desafiam, que convidam, que prometem mais e melhor.
Mãos que dançam, que desenham no ar as expressões que confirmam as de que o rosto é capaz.
E depois a pele, sagrada. A pele sentida como nossa, familiar. A pele que não desdenha arrepiar ao contacto superficial que se entranha, neste ou naquele ponto do corpo que se disponha a sentir.
Os lábios que se multiplicam em sensações proporcionadas, partes da alma beijadas em curto-circuito enquanto a língua desenha no corpo um rasto da sua passagem e prepara o caminho para a vertigem da penetração impossível de adiar.
A voz que não consegue reprimir os sons de momentos tão bons que nos apetece gritar ao mundo um prazer que não se admite amarrado pelo silêncio, alado, a experiência de um sonho acordado que exigimos seja capaz de estancar os ponteiros do grande relógio universal.
O calor libertado da prisão em que o enclausuramos pela restrição imposta contra natura, o suor que se mistura na flor que a pele se quer reconhecer, tão bem tratada pelo toque jardineiro que pode durar um dia inteiro sem saturar, pétala a pétala, os dedos por entre as gotas de orvalho nascidas como as da alvorada, em plena madrugada de Verão, a transpirar, sob o testemunho discreto de um luar descoberto nos olhos espelhados de uma mulher sensual.
Olhos que agradecem, que reconhecem, que transmitem a vontade de repetir.
Mãos que parecem sorrir enquanto tacteiam o rosto do outro como o seu, em paz.
E sempre a pele, profana. A pele que nos ama naquele instante precioso, sensorial.
A pele que não esquece o arrepio de um contacto absorvido, de um tempo impossível de ser esquecido, nesta ou naquela porção de alma ébria da emoção que se impõe viver.
Corpos receptivos e livres de grilhões, onde galopam sensações.
Cabeças isentas de medos e de nojos, vidas felizes de gente saudável e sem nada a perder.