Gosto do nome da banda, embora ainda não tenha conseguido gostar da sua música ou sido capaz de entender a sua forma de transmitir a mensagem que esse nome transmite. Mas não é deles ou do seu som que me apetece falar. Apetece-me sim reconhecer essa “máquina” contra a qual é preciso cada vez mais exibir a rebeldia, a revolta, a diferença de que o mundo precisa para não amolecermos de vez num rumo que, em muitos aspectos, deixou de nos servir.
A máquina faz-se de tudo quanto de errado permitimos que se construísse a partir das fragilidades de um sistema aparentemente entregue a quem o manipula ao sabor de interesses que em nada contribuem para a felicidade da maioria das pessoas, o sistema montado com base em pretextos que nos adormecem à sombra das boas intenções de que o inferno está cheio e por isso transborda para a realidade terrena que nos começa a transformar aos poucos num conjunto mais ou menos assumido de alimárias.
Somos pasto de todo o tipo de parasitas cujo oportunismo encontra terreno fértil no abandono dos vários poderes por parte das pessoas de bem. Cruzamos os braços aos poucos e permitimos a subjugação mais ou menos encapotada aos desígnios de um poder político corrupto, medíocre e alheio aos superiores interesses de qualquer população.
Permitimos também que cada cidadão se torne refém do poder financeiro, o maior, protagonizado pela banca, pelas gigantescas corporações que a controlam e por um séquito ganancioso de todos os tipos de especuladores. E a nossa força, a única que podemos utilizar na defesa dos interesses individuais, a força colectiva que move montanhas e promove revoluções, jaz nas múltiplas divergências criadas à medida de um sistema que se movimenta como peixe na água no contexto do dividir para reinar.
Papamos o grupo e seguimos em frente com a esperança fútil de que um comportamento sem ondas nos proteja da eventualidade de o sistema se virar contra nós. Uma ilusão de invulnerabilidade que só descobrimos enganadora quando uma simples conjugação aziaga de factores nos transforma de repente em párias. E depois somos expurgados pela força conjugada dos diversos tentáculos de um paraíso desenhado para usufruto exclusivo dos mais abastados, dos que nesta terra de papalvos tão reconhecidos como vencedores.
jogos de influências e pouco mais
O mérito pouco diz aos que se alcandoram, quantas vezes por simples golpes de sorte, aos postos de comando cada vez mais desumanos a partir do qual se gerem pessoas como rebanhos. Os números que representamos onde os nomes e os percursos pouco contam se não dispusermos de qualquer tipo de influência que nos esconda as mazelas e nos ampare em momentos de aflição. Quando caímos, mesmo os que se vendam ao esquema montado, jamais nos reerguemos do desgosto de nos percebermos valorizados apenas em função de hierarquias que sabemos estruturadas em premissas indignas daquilo que as pessoas deveriam defender e representar.
São raras as excepções. A resistência sucumbe à sucessão de derrotas que são afinal as consequências do nosso desmazelo na protecção da Democracia e de todos os valores que lhe associamos. A liberdade que hipotecamos ao apelo de uma sobrevivência condigna nos moldes que nos vendem como ideais. O orgulho que antes sentíamos por realizações que nada dizem agora aos que desacreditaram na sua capacidade de lutar contra aquilo que sabemos errado mas nos ensinam, nos obrigam, a respeitar como sinal dos tempos. O progresso falacioso que nos converte em gente ambiciosa demais.
São esses os sinais que nos tentam alertar sem sucesso para a iminência do fracasso destas opções abraçadas à pressa pelo meio da corrida contra tudo e contra todos os que nos possam impedir de alcançar o eldorado que nos transforma depois nas pessoas que criticávamos quando ainda sentíamos na pele o peso da sua actuação mesquinha, interesseira e artificial.
A máquina está a exibir pés de barro porque quis crescer depressa demais. E essa talvez seja a derradeira vulnerabilidade que podemos explorar para conseguirmos erradicar das nossas vidas o lado pernicioso, o dano colateral, antes que o monstro desabe de repente por si próprio sobre as nossas hipóteses de convertermos este espaço cada vez mais infeliz num mundo decente onde prevaleçam os valores e as garantias que hoje não passam de teorias para camuflar as motivações dos poderosos e para anestesiar a sede de mudança de boa parte dos que são deixados de fora.
O momento certo é agora.
Ou impomos a força do colectivo em abono do que acreditamos melhor, sem medo, ou seremos arrastados pelo castelo de cartas desequilibrado que qualquer vento de mudança acabará, hoje ou depois, por desabar sobre os menos preparados para enfrentar a borrasca que os deixará completamente sós. E esses, quando olhamos as estatísticas e comparamos os factos com os das lições que a História nos dá, são mesmo quase todos.
A esmagadora maioria de nós.