Depois da euforia de 2004, o ano de ouro da blogosfera portuguesa em matéria de quantidade, chega 2008 que veste aos poucos o rótulo do ano do desencanto. E isso verifica-se tanto pelo número crescente de blogues encerrados ou suspensos (que invariavelmente acaba por resultar no mesmo) como pelo discurso dos que ainda não fecharam as portas.
Existem diversas explicações possíveis para o fim do estado de graça desta via de comunicação, pelo menos enquanto “moda” que tantos milhares atraiu e agora parece entrar numa espécie de processo de maturação.
Para a maioria, a desilusão aconteceu nas caixas de comentários e nos contadores cuja animação ficou muito aquém daquilo que se esperava. Em boa parte dessas realidades estava em causa a falta de jeito ou mesmo de empenho que estas montras virtuais não conseguem esconder. Noutros casos verificou-se um exagero nas expectativas, fundamentado no número de visitas resultante do Google.com que de repente passou a ser Google.pt ou Google.com.br e as coisas tornaram-se mais realistas.
Noutros ainda, o fim do blogue representa apenas a saturação de ver a vida pessoal afectada por um trabalho cujo retorno nessas circunstâncias peca sempre por escasso ou nulo, mesmo quando é notória a evolução positiva de quem bloga.
Durante a época mais eufórica multiplicavam-se os encontros, jantares e convívios dos quais resultava uma base mais ou menos estável de participantes/visitantes que tornavam alguns espaços em autênticas esplanadas onde os posts serviam apenas como pretexto para o diálogo que fervilhava nas caixas de comentários.
Contudo, o tempo acabaria por reduzir a maioria desses grupos à sua mínima expressão num autêntico efeito bola de neve dos abandonos por “contágio”. Os blogues menos interessantes, uma vez desprovidos das presenças habituais (a malta amiga), acabaram por definhar ao ponto de os respectivos autores perceberem que os mantinham para si próprios (e muitos dos que afirmavam ser essa a sua intenção acabariam por baixar os braços à inevitável constatação em sentido contrário…).
E muitos colectivos acabaram por sucumbir ao mesmo golpe de misericórdia.
Por outro lado, nem mesmo algumas figuras públicas conseguiram impor-se neste meio enquanto fenómenos de popularidade. E isso tem a ver com a combinação de dois factores inquestionáveis: os visitantes estão mais exigentes e os linques já não possuem o peso de outrora. Aliás, já pouco contribuem para alimentar os blogues assim referenciados. Basta uma leitura rápida dos contadores para o confirmar, tal como a enumeração de espaços lincados em profusão e que ainda assim acabaram por desaparecer do mapa.
A isso acresce o facto de ser já demasiado evidente que a blogosfera não serve de trampolim para a promoção seja de quem for, ainda que possam surgir as excepções.
Mesmo essas derivam mais de uma hábil política de “alianças” ou do empenho inusitado na promoção/divulgação de uma imagem por parte de alguns figurões que ainda assim estão relativamente confinados a uma faixa restrita da blogosfera que, afinal, é grande demais para se destacarem muitos umbigos e é pequena demais para catapultar os seus melhores para qualquer tipo de ribalta.
números redondos
E se é óbvio que toda a gente negará tal anseio não faltam nos arquivos dos blogues de muita gente modesta e desinteressada os sinais mais ou menos flagrantes de tais aspirações.
Mas a verdade é que só os melhores (e nem todos) e os mais teimosos (mesmo que reduzidos a uma dimensão exígua – como acontece com o Charquinho) conseguem prevalecer, o que na prática quer apenas dizer que ainda atraem por este ou aquele canal mais de cem visitas diárias aos seus blogues ou que estão na blogosfera sem se ralarem com a tirania dos números mas apenas porque lhes dá gozo fazer parte desta comunidade de laços por norma tão superficiais quanto efémeros. A análise dos nicks presentes em qualquer caixa de comentários ao longo de um ano ou mais, com a volatilidade a fazer regra, confirma a veracidade deste pressuposto.
Numa altura em que assenta definitivamente o pó da adesão em massa e mesmo os que ficam ponderam a possibilidade de recomeços sob outras premissas, feita a aprendizagem do que pode correr mal quando nos expomos de forma igual às pessoas de bem e a aprendizes de canalhas que só vêem nestes espaços de liberdade uma potencial vulnerabilidade para aqueles que pretendem atingir seja quem for de alguma forma (como, de resto, me aconteceu e ficou registado nos arquivos deste blogue para memória futura), o anonimato de quem bloga (não confundir com o anonimato de quem comenta) acaba por ser uma das principais questões a equacionar no futuro que a blogosfera possa viver nesta nova fase menos popular (e populista) e mais “organizada” em função dos perfis e dos interesses de quem a mantém viva.
E esses continuam a ser acima de tudo aqueles que nos visitam.