VERMEER - THE ART OF FAKING?
Da vida e obra de Johannes Vermeer outros darão conta com muito maior rigor e propriedade do que eu seria capaz, nomeadamente por a arte plástica nem constituir uma dimensão da Arte e da Cultura que prenda particularmente a minha atenção.
Contudo, na sequência de um documentário a que ontem tive o prazer de assistir, fiquei a conhecer um pouco mais acerca do famoso pintor holandês da Escola de Delft a partir de um dos seus quadros, The Art of Painting (De Schilderkonst), e achei que não fazia mal dar uma de Pacheco Pereira e partilhar convosco as minhas impressões acerca do que aprendi.
Assim sendo, pego pelos detalhes que mais me interessaram e dos quais destaco o facto de Vermeer ter passado privações de toda a ordem em prol de uma arte na qual o seu talento só seria reconhecido muito tempo para lá da sua morte, o que o aproxima imenso do tubarão...
O quadro que ilustra esta posta tem sido dissecado à lupa por um conjunto de apreciadores e ficaram-me na retina dois, sobretudo pela persistência. Um deles é um artista que afirma observar atentamente a obra em causa há 40 anos. Quarenta anos. A estudar um único trabalho, o acima designado, sob todos os aspectos possíveis. Este impressionou-me pela longevidade da sua obsessão.
Um outro, apenas com um quarto de século dedicado ao famoso quadro que até Goering (lugar-tenente de Adolf Hitler) cobiçou, tem dedicado a sua pachorra ao único objectivo de provar que Vermeer fez "batota".
Essa batota entre aspas terá acontecido, de acordo com o teimoso "detective", pelo recurso do pintor a um dispositivo que reproduzia de forma grosseira as máquinas fotográficas da actualidade. Uma caixa de madeira, uma lente e uma imagem projectada em formato reduzido num vidro colocado no tampo da dita "câmara" que, de resto, estava a popularizar-se entre os artistas plásticos precisamente nessa época da história.
Provas não há, excepto as que derivam das elaboradas teorias e experimentações do fulano que até se deu ao trabalho de reproduzir numa maqueta à escala a sala retratada no The Art of Painting para, a partir daí, investir o seu tempo, dinheiro e inteligência a desmascarar Vermeer nesse alegado expediente.
A questão não é de todo irrelevante, pois um dos factores que mais pesam no valor milionário dos quadros daquele católico flamengo em terra de protestantes é a precisão notável da sua noção de perspectiva e da qual este quadro constitui um dos mais representativos.
Se nos afastarmos de tudo quanto os conhecedores possam alegar quanto à legitimidade do recurso à tecnologia para obter melhores resultados do que os "concorrentes" ficamos em mãos com um factor de diferenciação entre Vermeer e os seus pares que, por artificial, passa mais pelo valor da esperteza e menos pelo do talento. Basta pensarmos no esforço exigido a qualquer outro pintor para executar com o mesmo rigor uma obra idêntica...
Ou seja, o sucesso dos zarolhos em terra de cegos é um facto que faz escola em todas as épocas e em todos os domínios da actividade humana.
The Art of Painting era um quadro que servia como mostruário do autor, criado com o objectivo de colmatar uma lacuna nessa matéria que o tinha embaraçado perante um potencial comprador. E Vermeer, de acordo com os seguidores da teoria da tal câmara obscura, terá optado por recorrer a um truque para impressionar a sua audiência e o seu quadro não teria passado de uma brilhante iniciativa publicitária...
Porque me deu então para pegar neste assunto e transformá-lo numa posta?
É que nos contornos desse eventual artifício de Vermeer eu encontro um curioso paralelo com muitas "obras" expostas nesta nossa gigantesca galeria virtual que é a blogosfera.