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Mai08
AURORA MARGINAL
shark
As luzes da noite na margem do rio, no outro lado da escuridão da madrugada enregelada a que me exponho enquanto sigo o fumo arrastado pelo vento que a alvorada entendeu agora soprar e eu estendo o olhar para onde o cigarro aponta, esquecido num canto da boca, indicando displicente as luzes na outra banda que a ponte aproxima de mim numa preguiça estendida sobre o espelho de água agitado pela brisa que evoca um arrepio.
Mas eu rejeito o frio, anestesia, nesta ausência que pretendia de mim, consciência vazia no momento em que lanço ao rio uma flor que tanto reflecte um gesto de amor como uma despedida virtual.
A luz do dia que nasce do céu, como um ventre coberto de nuvens, no horizonte, na mesma margem, no outro lado desta viagem interior que me mantém acordado para saudar o sol recém-chegado que me anuncia o privilégio de mais um dia inteirinho para viver.
Então decido sorrir, rendido a cada beijo que me oferece este Tejo, generoso, na reminiscência do passado amoroso e na clarividência de uma visão de tudo aquilo que ainda não vivi.
E eu assisto apaixonado à exibição de um tempo moldado num futuro feito de ti.