No final de Outubro, como quem não quer a coisa, começam a surgir os primeiros. Depois aparecem outros e mais. De repente, com um mês e picos de antecedência, os putos estão mergulhados em doses maciças de alternativas para os pais e familiares mais próximos buscarem ansiosos nas prateleiras meio despidas dos hipermercados, previamente anunciados nos canais juvenis para abrilhantarem o Natal burguês.
Alguns criativos publicitários, não me apanham tão depressa na armadilha da generalização, andam cada vez mais a reboque do dinheiro fácil que resulta da aflição ou da ganância dos seus clientes mercadores. É vê-los cultivarem todas as datas possíveis, todas as celebrações passíveis de se transformarem pela insistência em modas e pela persistência em autênticas tradições. As suas, aliás, tantos tão empenhados em aproveitar um mote para a galinha dos ovos de ouro se baldar de forma cíclica, verdadeira unidade fabril produtora de pretextos porreiros para motivar consumidores.
Uma criatividade febril, acicatada pela dimensão das campanhas calendarizadas em função de uma quadra, de um evento, de qualquer sitting duck para alvejarem com tudo aquilo que os pagadores ambicionam nas mentes influenciáveis dos potenciais compradores.
Já todos reparámos que depois de decidido o campeonato da casa começaram a fazer-se notar as respeitáveis cores da bandeira nacional. Os primeiros. E depois cada vez mais outros, patriotas de circunstância a cavalo no acontecimento a que todas as marcas procuram associação.
É a alma de campeão que nos molda a vontade de adquirir os produtos conotados com a sede de vencer. O Europeu de Futebol, bandeiras por todo o lado, o espírito exaltado por ídolos que falam com os pés e aproveitam o que lhes toca da mama gigantesca que compete ao cidadão comum sustentar.
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Dias santos
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O Dia do Pai e o Dia da Mãe. O Dia dos Namorados e o das Bruxas também. A Páscoa e o Natal, o início das férias e o regresso às aulas, as competições desportivas e as caras mais vistas nas capas das revistas e acima de tudo no sagrado ecrã dos televisores.
As marcas na agenda que nos impomos seguir porque cedemos ao choro da criança, ao sorriso (ok, ok…) da pessoa bonita no anúncio ou simplesmente à porra da tentação que nos acelera o cartão para o crédito que o bom senso certamente teimaria contrariar, os ciclos do comércio adoptados como regra pela maioria da população (não apenas a mais urbana) que se desdobra em sacrifícios para acompanhar a pedalada da exigência assumida como social.
Porque todos sabemos como parece mal rejeitarmos essas ondas colectivas das massas compelidas a investir naquilo que esteja a dar na altura, a prenda para o amor que não dura se resistirmos à aparente necessidade de o comprar.
Agora é da selecção que vamos falar a toda a hora pois aos ciclos publicitários ninguém consegue escapar, nem os jornalistas (que nunca esquecem a notícia alusiva no alinhamento “por encomenda”), os blogueiros (desmintam-me, se puderem), todos quantos possam alimentar, nem que seja pela anuência, a dinâmica muito bem escalpelizada de qualquer multidão.
Eu gosto muito da selecção. Mas assim corro o risco de a enjoar.
Também.