Ao contrário do que seria de esperar, os meus sinais de alerta de crise disparam quando uma fatia substancial dos economistas enfatizam os indicadores de recuperação em pleno germinar da bronca.
Isto explica-se pelo enorme cepticismo que o desacerto histórico das suas previsões me inspira. Mesmo reconhecendo que, no actual sistema, sem previsões não pode haver decisões não consigo alhear-me ao facto de as medidas mais importantes em matéria económica serem baseadas em projecções.
E o futuro, por muito que nos doa, continua a ser um terreno movediço precisamente porque nessa área sabemos tanto, economistas ou não, como acerca da vida no Além.
Se existe ou não um erro colossal nos princípios basilares do funcionamento da coisa é algo que não saberia fundamentar, excepto pela boca de alguns analistas de peso que começam a perceber o paradoxo que tantas vezes tem trocado as voltas aos mais optimistas. E esses são precisamente aqueles a quem mais interessa defender o sistema que os sustenta, os que só nos anunciam a bronca quando se multiplicam nas portas dos vizinhos as notificações de penhora.
À catástrofe que não aconteceu na sequência do 11 de Setembro e da subsequente e desastrada intervenção dos EUA no Iraque sobreveio uma aparente descontracção dos políticos e dos mercados que se prova agora não passar de um adiamento da factura que está agora a surgir nos horizontes financeiros na sequência da badalada crise imobiliária norte-americana e reflecte-se igualmente na subida do preço do petróleo e em todas as outras indicações de maleita séria à escala global. São os pequenos sismos que prenunciam a erupção, no entender de alguns.
O cenário mais pessimista arrastará para a falência muitos bancos, muitas empresas e acima de tudo imensas pessoas como eu ou quem me lê. Há bancos portugueses a fecharem a torneira do crédito e isso só pode constituir um claro aviso à navegação: da próxima vez que precisemos de bater à porta do banco para encontrar soluções de recurso, balões de soro, é quase certo que ela permanecerá fechada.
Conhecendo a forma como as crises financeiras se espalham pelos cidadãos com uma eficácia epidémica, num contágio inevitável de aflições, e apesar de serem impopulares todos os arautos da desgraça, vaticino tempos conturbados ainda no decorrer de 2008 (o que para alguns explica, por exemplo, a proliferação de candidatos/as à liderança do PSD…).
Mas mesmo sabendo o desconforto causado pela alusão ao efeito dominó que nos empurra para o colapso, arrisco-o em detrimento do efeito Cassandra que explica o cepticismo que referi no parágrafo inicial.