Exactamente como acontece na vida “lá fora” que aqui se reproduz, as coisas evoluem e quando chegam a um determinado patamar acabam por forçar algumas alterações que são, afinal, o espelho dessa mudança.
Naturalmente, nem todos vivemos, sentimos e pensamos as coisas da mesma forma e por vezes surgem as divergências que daí resultam, embora isso jamais possa constituir um óbice para as pequenas revoluções que se produzem de forma quase espontânea em tudo quanto envolve grupos de pessoas, ou comunidades, se preferirem.
Entendo a blogosfera como uma comunidade e não me faltam argumentos para justificar esta crença, nomeadamente a reacção instintiva que ontem mobilizou vários de nós em defesa do colectivo a que acreditamos pertencer.
Quando há pouco, na caixa de comentários de uma posta mais abaixo, um colega parodiou a necessidade de qualquer dia precisarmos de uma Ordem dos Bloguistas lembrei-me da polémica questão do provedor da blogosfera que surgiu como hipótese no cenário numa fase algo confusa da expansão blogueira e acabou trucidada pela argumentação exaltada dos que temiam a perda de alguma autonomia ou mesmo de parte da liberdade que (também) defendemos com as horas investidas nesta nossa expressão virtual.
É delicado o equilíbrio entre a preocupação legítima dos que nos sentem à mercê das reacções hostis dos vários poderes e que intuem indispensável alguma forma de organização ou mesmo de disciplina e, por outro lado, os que estão nisto na boa e rejeitam liminarmente alguma forma de controlo ou de regulamentação interna que lhes impõe uma “seriedade” a que muitos fogem precisamente no puro gozo de um blogue sem regras.
Estas são apenas duas faces antagónicas da realidade heterogénea que criamos, havendo lugar para uma infinidade de soluções propostas em função dos interesses e das perspectivas de cada pessoa que bloga.
Neste contexto, é ponto assente que qualquer solução consensual é por definição utópica.
Contudo, exemplos estrangeiros e episódios pontuais da realidade caseira alertam-nos para a dura verdade de que desta liberdade só usufruímos enquanto diversos poderes o quiserem pois, na prática, não é necessária qualquer proibição assumida para reinar sobre uma comunidade dividida por uma das suas características essenciais: a diversidade que reflectimos na variedade de conteúdos por essa blogosfera fora.
Além disso, começa a ser indisfarçável a diferença na atitude e na ambição entre quem bloga a sério e quem prefere blogar na paródia e essa segmentação natural cria uma clivagem que se confunde facilmente com um conflito de interesses.
E não há aqui nenhum esboço de elites blogueiras, de espaços superiores ou coisa que o valha. Há apenas a constatação de que cada um/a de nós aborda isto à sua maneira e cada opção implica um conjunto de pressupostos que nem sempre serve a todos da mesma maneira.
É assim em tudo o que somos na sociedade analógica que igualmente integramos.
A blogosfera é uma apenas. No entanto, nem todos/as a vivemos da mesma forma porque preenchemos diferentes necessidades e subordinamo-nos a uma multiplicidade de motivações que tem que ser reconhecida como positiva na diferença mas igualmente nas implicações, nos passos a dar rumo ao futuro que desejamos aconteça de forma a satisfazer todas as sensibilidades que aqui se protagonizam, nomeadamente nas condições a criar para quem seja mais sensível, por exemplo, ao apelo de uma retribuição financeira em troca de um trabalho capaz de cumprir determinado papel na informação, no entretenimento, na divulgação cultural, no debate livre das ideias e em tudo aquilo que produzimos para, como em qualquer outro suporte, ocupar o tempo das pessoas de uma forma positiva e enriquecedora.