PALAVRAS HÚMIDAS
Foto: Shark
Uma cascata a soar, poucos metros adiante, e acima a nascente que a alimenta com a água que o céu lhe deita mais a que a terra regurgita depois.
Um rio que acaba de renascer, a cada instante, a cada segundo. Um rio que se torna tão fundo onde as margens abrem os braços para se criar uma foz, onde o mar faz ouvir a sua voz nas ondas com que abraça a água doce numa carícia de sal.
Um oceano sedento que absorve a cada momento o combustível natural para a sua grandeza, no contexto da natureza que lhe aceitou a reclamação daquilo que é a fatia de leão do espaço existente para partilhar.
Um todo azul quando visto do ar, o planeta que lhe compete cuidar em mais do que um aspecto.
Sem ele não passaria de um deserto, um palco patético para o vento soprar sem fim as suas brisas e furacões.
Uma gota de água que reflecte a lua, lá em cima, comandante das marés.
E o sol escondido do outro lado, reflectido pelo luar sobre o espelho daquele mar, à espera que passe o tempo para completar um novo ciclo e finalmente transportar para o céu com o seu calor a alma da água que irá depois chover para alimentar a terra, a nascente e aquela cascata a soar, poucos metros adiante, no interior da minha mente, para borrifar com palavras húmidas a pauta em branco onde tento escrever-lhe o som.
No leito ressequido de um rio imaginado que só brota dessa nascente que eu preciso alimentar.
Uma enxurrada que rebente a cada passagem do teu olhar.