Foto: Shark
A 35ª Esquadra da PSP, em Moscavide, foi invadida ontem cerca das 17 horas, por um grupo de 10 a 15 pessoas que ali entraram para impedir pela força a apresentação de uma queixa por parte de alguém.
Aparentemente lograram o intento.
A Esquadra em causa situa-se a umas dezenas de metros do local onde trabalho, numa vila que faz parte do meu quotidiano há vários anos, pelo que conheço o espaço e tenho a perfeita noção da relevância que a presença policial assume numa localidade onde habitam mais de 10 mil pessoas, na sua maioria idosos.
Trata-se, pois, de uma população particularmente vulnerável à criminalidade e à sensação de insegurança que um acontecimento desta natureza suscita.
Uma Esquadra é, por princípio, um espaço cujas portas franqueiam o acesso a um bastião de salvaguarda para quem a ele recorra.
Neste caso concreto, alguém convicto de razões para formalizar uma queixa contra terceiros. Os mesmos que nem precisaram forçar a entrada para impedir a concretização de um acto que à Polícia de Segurança compete dar sequência em condições de segurança para qualquer cidadão.
Mas na 35ª Esquadra da PSP de Moscavide, numa tarde de domingo, alguém entendeu que apenas um agente bastaria para garantir a presença da autoridade num núcleo urbano na periferia da capital…
A situação é de tal forma inconcebível que nem sei por onde pegar primeiro.
Mas é na pele da população de Moscavide que tento colocar-me, conhecedora que fica agora do facto de que se ontem tivesse ocorrido a dezenas de metros da Esquadra uma tentativa de assassinato ou outro crime qualquer não haveria a quem recorrer. Havendo apenas um homem presente, não é credível que o mesmo pudesse em alguma circunstância abandonar as instalações.
Contudo, isto apenas alimenta a minha estupefacção.
A preocupação que deriva da tomada de consciência do que isto implica, não apenas pelo caricato, essa sim dispara perante a conjugação do estado a que chegaram as forças de segurança e a falta de respeito pela autoridade que um acontecimento destes expõe na sua vertente mais assustadora.
É que perdido o respeito, e esse demora anos a reconquistar, só o medo poderá de alguma forma inverter a situação e não serão necessários muitos mais destes episódios para o receio da população se conjugar com a revolta dos agentes da autoridade e estarem reunidas as condições para os excessos que se aplaudem até comermos por tabela no meio de uma confusão ou de um momento menos bom.
A violência “tolerada” pelo medo da criminalidade, pela necessidade instintiva de uma reacção, acaba sempre por se virar contra os cidadãos pois quando o respeito é palavra vã só à bruta a polícia pode impor o medo como alternativa.
Só não temo as consequências dessa realidade a curto prazo porque em face do que ontem aconteceu na 35ª Esquadra é óbvio que não haverá quem a possa concretizar.