24
Mar08
A POSTA QUE AINDA SE POUPA ALGUM NOS DIVÓRCIOS
shark

Depois do boicote legislativo aos piercings, um must da preocupação governativa actual, o Executivo eleito com maioria absoluta acaba de apontar as baterias para os recém-casados, esses coniventes por omissão das fortunas que escapam ao fisco na sequência dos casórios multimilionários que grassam por esta nação aos quadradinhos.
Venha o mais pintado (tentar) defender a pertinência de tais preocupações por parte dos líderes que temos e esmagarei essa pessoa com duas palavras apenas, duas estocadas tão simples quanto letais neste particular: bom senso.
Se a primeira idiotice que referi não passa de uma descarada tentativa de intromissão na vida privada de cada cidadão, nomeadamente na sua capacidade decisória sobre o próprio corpo (recordo sem querer as questões do aborto e da eutanásia, à luz desta medida), a segunda idiotice não passa disso mesmo. É a cara desta fase do Governo de Sócrates, chapadinha.
Parecem todos empenhados em acrescentar a burrice aos argumentos que vão sobejando e nem todos explicados pela crise financeira global.
Lua de Fel
Num país onde o matrimónio definha enquanto instituição, uma perda de tempo burocrática em face da penosa estatística de durabilidade de tal aliança (e com o ouro ao preço que está ) que se mantém apenas por motivos cada vez mais estapafúrdios, o Governo português decide transformar os recém-casados numa espécie de bufos capazes de substituírem a fiscalização do Estado na actividade económica que lhe compete vigiar. Mais do mesmo, neste deplorável e cada vez mais visível descartar de responsabilidades empurradas para cima da população.
A famosa lei do tabaco é outro ex libris deste jogo do empurra de quem tenta brilhar perante os eleitores à custa deles próprios.
Por outro lado, com uma taxa de desemprego pouco simpática, a criminalidade a trancar portas, o sistema partidário em notória desagregação, o Serviço Nacional de Saúde em desmantelamento e mais um rol de preocupações sérias que afligem o cidadão comum (a falta de liquidez, por exemplo, aflige um nadinha), quem pode levar a sério políticos capazes de se debruçarem sobre estas pintelhices (pardon my french) enquanto o resto do país quase alucina?
Para quem enfrenta todas as ameaças a uma vida condigna sem as couraças de que o Poder (os seus protagonistas) se valem, estas prioridades legislativas soam patéticas e por muito que me intimide a falta de alternativas reais (realistas) a esta opção que nos restou começo a desenvolver aos poucos uma incómoda costela anarca.
E que tal um impostozinho sobre a infidelidade conjugal, hum?
As mais recentes ideias provindas dos patetas capazes de as divulgarem (ao menos que as confinassem ao pudor dos gabinetes que nos custam uma pipa de massa) transformam aos poucos a governação numa história digna de uma banda desenhada.
De resto, a apetência do Governo pelo grafismo, pelas imagens, está bem patente por exemplo no recente investimento num novo logótipo para a ADSE, se a memória não me falha, muito oportuno no contexto dos progressivos cortes nos benefícios de (mais uma) regalia sob a mira da reforma à tesourada que poupa dinheiro aqui para o esbanjar estupidamente ali.
Onde?
Por exemplo nos salários e mordomias dos fulanos que acordam de manhã com vontade de nos estupidificarem por contágio com as suas grotescas exibições de alheamento à realidade que observam à distância para lhes inspirar estas caricaturas decretadas.