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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

21
Mar08

NO REGAÇO DE UM SONHO, FANTASMA

shark
s.miguel.jpg
Apenas o silêncio cortado a espaços pelo rastejar de uma cobra no meio das ervas, ou seria o som da sua própria atitude que a mente descodificava como uma vergonha que rastejava mesmo ao lado, de raspão pelo passado, do seu corpo entregue ao flagelo do frio.
Era o que ouvia para lá do seu vazio por preencher.

Olhava o céu sem o ver, cego de nascença num ponto da consciência que lhe obliterava a perspectiva e o forçava a enfrentar o nevoeiro sem a mais pequena noção de um rumo, da direcção adequada para o local que procurava sem saber como nem porquê.
Tudo aquilo que alguém vê na escuridão de um espaço interior.
Oco como a mente de um louco condenado a prisão perpétua numa cela forrada a papel de lucidez.
Via apenas um momento parado de vez, num ponto fixo do tempo, uma imagem repetida até à exaustão que sentia como um chicote, uma punição, nas costas do arrependimento e no rosto enrugado que servia de leito às lágrimas que vertia quando ainda sabia chorar.

Apenas o cheiro dos cabelos, fragrância de saudade arrastada desde um local remoto na sua memória bloqueada como se estivesse blindada contra a tarefa inglória de a apagar.
O vento que a soprava contra si, lá dentro, contra as paredes de um cérebro empedernido como um rochedo, enfrentando a força colossal da rebentação.
Ondas eléctricas, lembranças, apenas vagas semelhanças entre o caminho antes percorrido e o trilho sem norte que o conduzira, sem sorte, até um ponto de saturação.

O grito lançado como um pombo-correio desorientado contra as copas das árvores onde a mensagem se perdia por entre a folhagem que jamais reagia à fúria que sentia, como ele, quando a voz lhe tocava a pele em suaves acordes da brisa que fingia nem o ouvir.

Depois apenas o silêncio cortado a espaços pelo longínquo rumor de palavras cheias de amor que a mente descodificava como um último beijo antes de adormecer.
Foi esse o último som que escutou.

Na alvorada do dia em que a sua alma beijada finalmente despertou.

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