...Mas já aqui estou a marcar o lugar, enquanto tento encontrar uma solução para migrar todo o conteúdo da versão alojada na plataforma Weblog.
Enquanto tal não se verificar, postarei aqui sempre que tal não seja possível no blogue original ou quando me apetecer (caso atine com este novo editor).
Quase em simultâneo, o Governo anunciou mais duas medidas proibicionistas. Passaram a ser proibidos o culto dos cães de guerra (sete raças perigosas na lista negra) e os piercings em diversas zonas do corpo. Assim de repente, a malta até aprova a medida. Os cães em causa quase matam mais gente por ano em Portugal do que os tubarões no mundo inteiro. E os piercings, potencialmente causadores de infecções nos putos, chocam as vistas mais conservadoras.
Eu não meto as duas medidas no mesmo saco. Evitar a proliferação de animais ferozes à solta pelas ruas soa-me razoável, indispensável até. Sobretudo num país de bestas irresponsáveis, incapazes de cumprirem o seu papel de donos e açaimarem as suas máquinas assassinas com patas para não continuarem a matar e mutilar transeuntes. Mas apontar o crivo proibicionista à liberdade individual de colocar piercings na língua ou onde quiser cada cidadão soa-me a contradição relativamente ao espírito tão liberal do principal argumento de muitos defensores da despenalização do aborto: o direito de cada um ser dono do seu próprio corpo.
Podia arrastar este assunto para um daqueles lençóis que poucos lêem e nenhuns comentam, mas vou resumir a coisa ao que me parece serem os efeitos práticos potenciais destas duas intervenções do Estado na vida dos cidadãos.
Os cães banidos passarão a ser criados na clandestinidade, provavelmente por criadores de circunstância, e sem qualquer hipótese de controlo por parte das autoridades. Ou seja, se muitos já fugiam à obrigatoriedade dos chips, dos seguros e de outros meios de controlo e atenuação do problema agora só vamos dar com os bichos tresloucados quando eles surgirem do nada fugidos dos canis incógnitos.
Quanto aos piercings e tatuagens, se até agora constituíam apenas mais uma moda das que em todas as épocas existem para os/as mais rebeldes terem à mão uma maneira simples de evidenciarem a diferença da sua atitude (é mais fácil do que prová-la sem o recurso a pinturas ou anilhas ou cabelos de cor púrpura), o Governo totó acaba de transformar essas irreverências rebeldes em autênticos gritos de revolta (o que as tornará obrigatórias para quem abraçar uma atitude bué contestatária que, na maioria dos casos, o futuro até comprova não passar de um desequilíbrio hormonal adolescente e passageiro).
Resumindo: se os cães não têm culpa da estupidez dos donos e, em vez de proibir, o Governo deveria penalizar de forma mais dura os donos que não cumprem as regras que a lei preconiza, os cidadãos que são mesmo donos do seu corpo não têm culpa da estupidez de um legislador careta que decidiu marrar com o comboio de chelas em vez de se preocupar com assuntos relevantes para a população.
Um país de merda constrói-se assim. Desculpabilizado pela estupidez alternada.
...Pois não sei como reagiria se me aparecesse um taxista bêbedo na esquadra para confessar ter atropelado quatro crianças numa passadeira e fugido do local.
Saber até sei, mas depois deixava de ser polícia...