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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

05
Mar08

SARCÓFAGOS DE UM SISTEMA PUTREFACTO

shark
penúltima morada.JPGFoto: Shark

Anunciado com pompa e circunstância à data da sua inauguração como um autêntico condomínio de luxo para defuntos, um modelo a seguir que quase embaraçava os restantes, o cemitério de Carnide volta à berlinda pelas piores razões.Em causa está mais um disparate colossal (e dispendioso, a vários níveis) de decisores e de executores a quem confiamos a gestão dos recursos que, na prática, lhes oferecemos de bandeja por via fiscal.
De acordo com o LNEC, o terreno escolhido para última morada de uma parte dos lisboetas não serve para o efeito e a prova visível é o facto de a deterioração dos corpos não acontecer como seria expectável.

Além disso, o LNEC acrescenta à asneira mais umas quantas (as do costume) ligadas ao deficiente sistema de drenagem e às consequências do depósito de entulho das obras do Metro (que alguma inteligência rara entendeu por bem “sepultar” no perímetro).
Daí resulta que depois de ter ficado reduzido a menos de meia dúzia de funerais por ano, com consequentes prejuízos para quem investiu no comércio ali instalado com a Câmara por senhoria, o cemitério modelo alfacinha prepara-se para executar “acções de despejo” a sete mil dos seus ocupantes.
Sete mil trasladações com tudo o que isso implica de tempo, de esforço, de custo e de perturbação para os vivos (que os mortos não se devem ralar…).

Para além dos contornos da situação, que é de morrer a rir (e perdoem-me o humor negro que só nos pode arrancar um sorriso amarelo), salta à vista a bagunça reinante e a tradicional impunidade de todos quantos chancelaram mais este prego no caixão da imagem da autarquia lisboeta. E das suas depauperadas finanças.

Contudo, nem é a questão financeira a de maior relevância neste assunto. Enquanto estas negligências grosseiras que desmascaram a incompetência dos técnicos e responsáveis envolvidos não for devidamente punida, nomeadamente impedindo essas múmias andantes de repetirem a proeza no futuro, estaremos a permitir que continuem a cavar sepulturas do mesmo género noutras obras camarárias com o beneplácito de quem os sustenta.
Estaremos, no fundo, a abrir as portas a repetições de tragédias como a de Entre-os-Rios, outro bom exemplo de como a culpa nestas coisas morre sempre solteira.

E o problema, sobretudo ao ritmo a que a cidade de Lisboa acumula cadáveres nesta vaga criminosa, é que qualquer dia não teremos onde enterrá-la.

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