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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

26
Fev08

COISAS DE GAJO (3)

shark
Continua a ser apelativo conseguirmos levantar o carro da moça, sem recurso ao macaco, enquanto ela tenta em vão desenroscar as rodas (embora sejamos nós a executar a totalidade da tarefa).
Mas há que descobrir e rentabilizar o potencial de uma conversa com a vizinha enquanto exibimos enorme destreza no uso do nosso estendal.


(Recordo que isto pode ser lido por jovens de tenra idade na fase crítica do seu processo de aprendizagem. Temos que ser uns prós outros.)
25
Fev08

COISAS DE GAJO

shark
Este é um blogue de gajo, por muito maricas que o discurso possa soar às vezes.
E por isso de vez em quando tenho que vincar a minha masculinidade, nomeadamente através do recurso a um tipo de sabedoria que gaja alguma possui.
A primeira faz parte do aeiou da pessoa com pila.
Outras, ainda mais másculas e necessariamente muito profundas, se seguirão.
(Era isto ou arrancar os botões de cima às camisas todas para exibir a farta penugem...)

Um gajo só aprende a andar à porrada no dia em que leva as primeiras bem dadas.
25
Fev08

VALUPITE AGUDA

shark
Com o armistício assinado na guerra civil da Parvónia e a Media Markt a meter o rabinho entre as pernas com o polémico escuteiro do seu anúncio a desaparecer pela magia de uma "boa acção" por cagufa, foi agora lançada mais uma campanha publicitária (do Banco Espírito Santo) feita à custa da ridicularização de um grupo específico de profissionais.
Desta feita os visados são os vendedores de automóveis, caricaturados na sua versão menos agradável.

O problema destas paródias publicitárias reside numa lógica muito simples e difícil de desmentir.
Para se justificarem na função os publicitários provam-nos a sua influência na tomada de decisão do seu público-alvo de circunstância. Ou seja, conhecedores dos seus instrumentos mais eficazes (os media, nomeadamente a televisão), arvoram-se capazes de manipularem os impulsos de compra de fatias aleatórias da audiência massificada.
E tudo indica que se confirma o pressuposto.

Ora, a mesma lógica que lhes sustenta a eficiência é a que confere aos media um impacto determinante na formação de decisões. E de opiniões também.
E é aqui que entra a face foleira do argumento utilizado nestas ridicularizações pontuais desta ou daquela realidade, sem que isso se revele particularmente eficaz ou possa sobrepor-se às hipotéticas alternativas.
Se aceitamos o impacto da publicidade nas pessoas não há como fugir à evidência da sua eficácia pela negativa.
E nesse caso, a imagem de um grupo ou classe profissional sai efectivamente lesada no boneco que os anúncios pintam.
A delicada questão das fronteiras

Anda um enorme sururu no Aspirina em torno da sensível questão das caricaturas a Maomé e um dos aspectos mais polémicos é precisamente o da definição do que é ou não insultuoso e, por tabela, de quais os limites (se existirem) da aplicação prática do conceito de liberdade de expressão que é tão cara a quem se revê no modelo de sociedade que é a nossa.
O paralelo que encontro nestes dois aparentes conflitos entre a liberdade criativa e a sensibilidade (ou vulnerabilidade) de determinado grupo de pessoas reside precisamente nos pontos de convergência das duas questões levantadas, passe a relevância de cada uma.

A liberdade de expressão não deve constituir-se plataforma para abusos. Contudo, a definição de abuso pode ser moldada ao sabor das conveniências de quem pretenda encontrar pretextos para a cercear. Quero com isto dizer que se o livre arbítrio de quem insulta ou inferioriza pode resvalar para os terrenos pantanosos do fartar vilanagem, mais facilmente a manipulação oportunista de falsas virgens ofendidas pode converter-se numa ameaça à liberdade em si própria.

Na questão da publicidade de mau gosto, o episódio Media Markt conheceu um epílogo que se transportado para o exemplo das caricaturas a Maomé faria com que os dinamarqueses pedissem desculpas públicas e banissem os trabalhos da polémica. E esse precedente seria tão encorajador para a chantagem de bombistas como o será para qualquer grupo influente que acene com as formas de pressão ao seu alcance no Estado de Direito para se proteger de uma eventual imagem lesiva.
O paralelo reside na cedência que basta ver-se multiplicada para se arreigar como um costume, como uma prática recomendável.
E isso constitui um perigo real para o conjunto de valores que nos distinguem, enquanto civilização, das que se revejam num modelo onde o bom senso é substituído pelo proibicionismo e pela força bruta fundamentalista.

Definição de prioridades

E foi essa a verdade que a argumentação inflexível do Valupi nos dois posts publicados acerca da bronca das caricaturas enfatizou. Entre o enquadramento legislativo que evite os excessos ou permita a sua reclamação (jurídica) por qualquer pessoa ou grupo que se sintam lesados e o recuo inerente a uma retracção em função de qualquer ameaça desproporcionada o mal menor é sempre o primeiro destes dois cenários.

Os publicitários que optam por denegrir a imagem de uma classe profissional, legitimados pelo direito que possuem de o fazer, são uns imbecis aos meus olhos e só revelam falta de capacidade para enveredarem por um caminho talvez menos fácil mas seguramente mais digno na abordagem.
Os empresários que cedem à ameaça latente de terceiros só para evitarem transtornos são uns cobardolas revisionistas.
Mas isso é a minha opinião, que sou livre de emitir porque vivo no lado do mundo onde esse direito não é algo de negociável. Porque sou igualmente responsável pelas consequências dos meus actos e afirmações, caso o seu teor ultrapasse o que a Lei defina como legítimo dentro do espaço de manobra que a liberdade me confere.

Eu não subscrevi o visível recuo da Media Markt, como não levei a sério as virgens ofendidas escutistas. Sei que a indústria automóvel possui os meios necessários para contrapor à “arrogância” criativa dos anúncios bancários uma resposta adequada e proporcional.
E ainda sei que anos atrás um banco “revolucionário” impôs a sua diferença através da ridicularização dos processos arcaicos da concorrência (as velhas chapinhas numeradas de metal, lembram-se?), pelo que nem se pode dizer que são incapazes de apontarem as baterias aos “seus” da mesma forma que os caricaturistas escandinavos podem embicar para questões tão delicadas como a pedofilia que a Igreja Católica tem albergado no seu seio (certamente com uma expressão tão minoritária como a dos extremistas que ameaçam de morte quem os melindre, no contexto da multidão que arrastam na imagem intolerante mas que certamente não representam).

Com conta, peso e medida

Já fui vendedor de automóveis e numa primeira reacção, instintiva, senti-me incomodado com a ridicularização implícita na campanha que referi. Mas se tivesse que ameaçar uma instituição bancária (jamais as pessoas que as integram – também valorizo essa diferença) com uma acção à bruta jamais seria sob o pretexto de desatinar com uma chalaça mas eventualmente por me “fecharem a torneira”, executarem uma hipoteca e fazerem-me sentir a mais na sociedade e no mundo a que quero pertencer.
Precisamente o que me querem fazer sentir os fundamentalistas que ameaçam matar quem os hostilize com reacções à sua visão afunilada das coisas que se traduz numa conduta criminosa mesmo à luz dos preceitos que alegadamente defendem.
Talvez porque seja assim que eles próprios se sentem.

Mas a culpa não é minha, nem do modelo de sociedade em que me revejo.
E isso não me cega às desigualdades e injustiças que dele resultem, como estas não podem servir de pretexto para abdicar por medo de coisas tão preciosas como o sentido de humor para poder rir-me destas palermices todas.

Ou de debochar com a sua essência tão séria e no entanto, pelas suas inúmeras incongruências e equívocos, quase a roçar o descaradamente infantil.

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