Foto: SharkPontos de passagem. Alguns pontos de paragem pontual e nada mais.
Marcas aleatórias no horizonte em constante mutação porque tudo muda de posição enquanto o tempo se move, porque tudo pelo tempo se deixa inexoravelmente arrastar.
Pontos de miragem, convertidos no pó deixado para trás pelas ilusões.
Por vezes afiguram-se irreais, pela surpresa das suas deambulações erráticas que alteram pressupostos e desenham uma nova construção. Um caminho, afinal, que o tempo trilhará arrastando pontos pela paisagem transformada, o futuro a preparar-se sobre o presente instalado em cima do passado que o tempo enterra sob o chão que se pisa depois.
Pontos de cruz no emaranhado das fés, perdidos em esperanças e cogitações, atentos a todos os sinais que choram em rostos de pedra. E escorrem as lágrimas de sangue que lhes deitam a conta-gotas para o milagre se converter em realidade adulada, os pontos de partida para um lugar que todos desejariam melhor.
Pontos passados, os pontos enterrados pela vida que precisa continuar, um caminho por trilhar pelos pontos de interrogação que são restos de colecção que passam de moda quando o tempo passa demais.
Pontos cardeais, os que traçam a rota. Pontos fatais os que fecham a porta na cara dos que planeavam o troço para amanhã, no futuro que sonhadores pontuavam com uma exclamação.
Pontos finais nos parágrafos que relatam aquilo que entretanto aconteceu. A vida que cada ponto viveu, livre das reticências de imensos pudores. Dos feitos aos amores, ponto assente, o mais bravo ou inteligente pontuado acima da escala considerada normal.
Por vezes são pontos de vista, pela certeza nas suas convicções, luminosos como faróis que desvendam o mapa assinalado, o caminho já percorrido pelos pontos mais marcantes de uma história a galope numa memória colectiva sem intervalos de pontuação.
Pontos à deriva na escuridão de uma dúvida existencial, oscilando entre o bem e o mal separados à nascença por uma irrequieta terra de ninguém.
Pontos de passagem de uma para a outra margem de um rio tão instável nos humores, tão variável o seu caudal.
E qualquer ponto da travessia pode, num instante, revelar-se um ponto final.