É recorrente da minha parte afirmá-lo e jamais tentarei descartar as minhas culpas nesse cartório, mas boa parte do abrandamento nas caixas e na visitação e da notória diminuição do interesse de alguns blogues feitos por gente capaz derivam da irreprimível tendência para falarmos DOS outros e não PARA os outros. Volto ao assunto (já tão remoído e mastigado) porque descobri dois blogues recentes, excepcionais no que respeita à qualidade da escrita e com indicadores claros de inteligência e formação superior por parte dos/as respectivos/as autores/as, ambos já pautados pela tal tendência foleira que denuncio.
Essa tendência consiste no impulso para os juízos de valor acerca dos outros, sejam quem forem eu próprio se me quiserem vestir essas peles, apreciações depreciativas da personalidade e/ou da forma de estar na vida que transparece daquilo que damos de nós. É injusta sob qualquer prisma, essa postura fácil de quem dispara às cegas sobre aquilo a que tem acesso sem possuir de forma alguma os elementos necessários para tais conclusões. E ainda menos com algum tipo de legitimidade para se alcandorarem com tal desplante num pedestal que, bem vistas as coisas, muitas vezes acaba por se revelar feito de papelão. É que a blogosfera não concede perdão a quem envereda pela crítica com ar superior excepto aos casos raríssimos de quem nunca dá os flancos. E quem consegue tal prodígio só pode ser muito frio e racional ou um arquétipo da perfeição. Eu não acredito nesta utopia e cada vez menos encaro com bons olhos estas poses de seres superiores que se sentem no direito de escarnecer, de minimizar, de forçar uma elevação artificial com base na comparação inevitável. Quando colocamos os outros num patamar inferior é lógico pressupor que nos instalamos acima, equilibrados de forma precária na subjectiva apreciação do que julgamos valer a mais na dita comparação. Talvez nem o direito de cada um a uma reacção proporcional às atoardas de outros o legitime.
Insisto que não reclamo para mim qualquer espécie de isenção ou de inocência neste aspecto e a armadilha que a blogosfera constitui (quando temos a decência de, por exemplo, não apagarmos pura e simplesmente os posts ou comentários que nos podem macular o boneco) é conservar por escrito a flutuação das nossas posições e que facilmente nos etiquetam de inconsistentes, incongruentes ou simplesmente aldrabões.
Eu não sou, nem quero ser, um membro desse clã de semideuses capazes de esgrimirem o seu talento como armas de arremesso aos que sentem como inferiores ou apenas lhes caem mal por alguma razão que, de resto, nem sempre se prende com mais do que uma simples embirração própria ou solidária. Não é esse de todo o objectivo desta posta, tal como não pretendo assumir o mesmo papel que critico nesta ocasião. Pretendo apenas desabafar o meu desconforto perante o que sinto como uma perda.
A perda de mais duas opções (pouco interessa quais, neste contexto) que certamente me serviriam se não me oferecessem mais do mesmo que pretendo, cada vez com maior determinação, exorcizar da minha atitude blogueira e do tempo que dedico a esta actividade que sinto menos hostil e ingrata mas mais descaradamente arrogante.
E, na esmagadora maioria, mais distante e preguiçosa. Sem sombra de dúvidas, injustificadamente vaidosa.