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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

26
Jan08

QUE LHES TOMBE O BASTÃO NAS VERGONHAS

shark
É curiosa a convergência de reacções dos principais partidos políticos às declarações do novo Bastonário da Ordem dos Advogados, a propósito da classe política e dos sinais de alerta que são voz corrente na opinião pública.
António Marinho não disse mais do que tempos atrás saiu da boca de alguém ligado à Procuradoria-Geral da República e a vida real vai confirmando penosamente nos jornais e no quotidiano da população.
No entanto, em uníssono, as virgens ofendidas saltaram de imediato dos seus feudos cor-de-rosa e exigem um inquérito. Um inquérito, já!

Aos olhos de quem está de fora, esta súbita exigência de justiça, de esclarecimento das acusações implícitas nas palavras de quem se limitou a chover no molhado, soa tão farsante que parece talhada à medida para o Entrudo que se aproxima.
O tom das reacções dos figurões que deram a cara pelos seus clubes privados, alegadamente justificadas pela relevância das declarações por provirem do Bastonário, denuncia a sua vontade de fazerem a folha a quem falou demais e está mesmo a jeito para servir de exemplo e, em simultâneo, constituir (no falhanço inevitável e costumeiro do elemento de prova) mais um argumento da classe política em abono da integridade que não consegue alardear onde e como interessa ao país.

Ou seja, ao tentarem atrair António Marinho à cilada das perguntas sem resposta possível que o possam cobrir de descrédito, exigindo nomes e factos para consubstanciar as suas declarações, pretendem apenas punir um incómodo desbocado que antes muitos amargos de boca lhes tinha dado durante o seu tempo de antena enquanto comentador de noticiários televisivos.
Isto porque, e como António Marinho argumenta, o facto de denunciar o tráfico de droga que é uma realidade no país não obriga seja quem for a fornecer os nomes e as moradas de todos os traficantes e consumidores.

E tem razão, o Bastonário, e só não vê quem não quiser quais são as motivações da classe política ao chamarem à pedra alguém que disse o que toda a gente já percebeu à sua custa e do país que os fenómenos por ele mencionados destroem aos poucos.
Estranho também a prontidão na exigência de explicações, de apuramento de responsabilidades, de vontade irreprimível de defender o bom nome de um grupo que possui mais meios do que qualquer outro para o fazer. Na praça pública, nos órgãos do poder que ocupam e onde poderiam provar-se incorruptíveis, inexcedíveis, tão intocáveis como pretendem agora mascarar-se nesta paródia, mais uma, no âmbito do Carnaval em que deixaram transformar a vida política portuguesa.

O inquérito exigido servirá apenas como uma panaceia oportunista para as muitas mazelas que saltam a público pelo desmazelo de alguns ébrios da impunidade generalizada ou pelos raros sucessos obtidos por quem ainda arrisca investigar o imenso lodaçal que toda a gente vê com os olhos e que por medo, por cumplicidade ou por simples (e perigosa) indiferença ninguém cuida de limpar a fundo como há muito se impõe.

Mas o Carnaval são só três dias. E Portugal são muitos mais.

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