Temo pelo meu país. Temo a deserção em massa, resignada, verbalizada em desabafos que me soam a traição sempre que apelam à integração numa pátria que não a nossa. A jangada de pedra alucinada de um homem senil, defendida em doca seca pelos que preferem invejar a riqueza alheia do que lutar por todos os meios para lhe equiparar a sua, esse barco apátrida comum, começa a tomar forma no discurso dos desiludidos, dos vendidos e de todos quantos olham para a bandeira como um adorno de janela em dias de futebol.
Sinto sobretudo o desdém instalado no discurso dos que advogam o fim absoluto das fronteiras, sem qualquer melindre perante a hipótese (a certeza) de que qualquer tipo de Ibéria conduziria à inexorável extinção do território, da língua, da cultura desta Nação que tanto lutou pela sua independência quando a cobiça se manifestava do outro lado da linha imaginária que nos desenha na península que o acaso geográfico criou.
Temo que esta moda derrotista, inconsequente no desfecho ambicionado por alguns, constitua mais um prego no caixão deste país que deixamos definhar à mercê de uma mentalidade mesquinha, pequena, oportunista. Renego um progresso do qual faça parte a perda da identidade portuguesa, da realidade construída por gente de outro calibre, por antepassados cuja memória insultam os que passam uma esponja leviana sobre valores que jamais se deixam cair. E os mercenários que espreitam e invejam a monarquia vizinha esquecem-se do facto de quem reina no mundo actual ser um país mais recente, um país acelerado precisamente pelo esforço suplementar que o nacionalismo lhe confere.
O amor a uma Pátria não é algo de que se possa abdicar com base em critérios de treta, economicistas. Uma Pátria ama-se e respeita-se, luta-se por ela. E eu não admito hipotecar o futuro dos meus descendentes, a sua origem portuga, por condescender com a aleivosia de comodistas, de gaiatos, de invejosos que nada conseguem dar de seu a uma realidade colectiva que os envergonha mas acreditam-se dignos de se integrarem numa realidade que afirmam melhor do que a sua.
Eu tenho orgulho no meu Portugal.
E nessa matéria jamais pactuarei com falinhas mansas, paninhos quentes ou pequenas traições de mesa de café.