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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

23
Jan08

ELE HÁ COISAS DO...

shark
...Caraças.
O blogue que actualmente mais me prende a atenção e, espantoso, que consegue estar cada vez melhor à luz da minha (cada vez mais) apertada bitola é o mesmo que nem assim há tanto tempo considerou este um dos piores blogues do ano (uma experiência deveras traumatizante, um horror...).

Aquilo é mesmo uma ganda malha e faz-me recordar os bons tempos do Afixe, para melhor. Aspirina B, de seu nome.

O melhor de 2007, no meu modesto entender.
23
Jan08

A POSTA NUMA VIDA DESPAUTADA

shark
passarinhas na pauta.jpgFoto/Imagem: Shark

Sempre que participei no emocionante ritual escolar dos testes, pontos ou exames (sobretudo naqueles em que recebi notas a vermelho) enriqueci um pouco mais a minha bagageira de conhecimentos no fascinante domínio da diversidade humana.Um gajo entrava na sala de aula nesses dias e aquilo parecia a sala de espera de um dentista da Caixa, tamanha a tensão que se abatia sobre a maioria dos gladiadores da sabedoria que olhavam o prof como uma espécie de leão faminto com polegares oponentes que decidiam quantos pereciam de entre (those who are about to die) aqueles que o saudavam na arena de carteiras grafitadas.

O circo instalava-se por norma nas filas de trás (quando tínhamos a sorte de dar com professores passarocos ao ponto de não determinarem a distribuição dos cábulas pelo perímetro), embora existissem os atrevidos e mais espertos que instalavam os auxiliares de memória nas barbas do fiscal de circunstância. Safavam-se à grande, os audazes.
Logo aqui faziam-se sentir as diferenças entre os trinta e tal aspirantes a cidadão bem formado (alguns ainda hoje confundem a posse de um canudo com a de um atestado de competência social) que se expunham dessa forma cruel à implacável avaliação da sua forma de encarar a vida.
Era disso que se tratava, se tivermos em conta o discurso institucional que nos separava entre espertos ou burros consoante as notas obtidas nos testes que, aliás, impingiam como apenas um dos elementos da famosa avaliação contínua mas que afinal correspondiam quase na íntegra ao número exposto na pauta para vaidade de alguns, vergonha de uns poucos e absoluta indiferença de apenas um ou dois.
Um gajo até podia passar um ano lectivo enfrentado como uma etapa na luta pela sobrevivência, fazer os têpêcês todos e muito limpinhos e bem caligrafados, não se baldar às aulas para ir dar uns melos ou jogar à bola ou fumar umas merdas. Mas se depois nos pontos a coisa descambava, raramente havia volta a dar.

Contudo, falava eu de como nessas condições especiais cada um/a acabava por revelar a sua natureza, a sua reacção espontânea à pressão de se provar capaz. E se comecei por referir o posicionamento da malta na sala, posso agora adicionar uma ilustração que é quase uma caricatura.
Quantos de vós não se depararam com um “grande amigo” subitamente transformado num Patinhas, deitado sobre as suas preciosas respostas para vos impedir de deitarem o mirone e assim lhe ofuscarem o brilhantismo individual, nos rostos uma expressão parecida com a de um gajo quando dá conta de que o parceiro do lado está a esticar aos limites a visão periférica em pleno urinol?

Por outro lado, também se revelavam as almas mais generosas. Havia sempre uma desgraçada ou um desgraçado que marravam que nem doidos para depois correrem o risco de verem os testes anulados por serem caçados a partilhar, a darem de si para salvarem o coirato dos moinantes que lhes caíam no goto.
Também havia os que bloqueavam com os nervos, choravam até. E os que fintavam com sucesso a “medição de inteligência” com uma notável exibição de esperteza, cabulando e copiando, oportunistas e parasitas, até à licenciatura final.
Conheço alguns assim, doutores. Bem sucedidos na vida, a maioria.

E eu, pouco dado ao estudo fora de horas (de horas de aulas, entenda-se), tinha tempo e disponibilidade para fingir que escrevia ou para escrever a fingir enquanto aprendia a distinguir o efeito das circunstâncias no comportamento de cada um. Ou apenas aproveitava para degustar uma beleza qualquer com o olhar e congeminava a futura abordagem ao galeão carregado de tesouros que iria compensar-me mais tarde da vergonha de um zero ou pouco mais na escala dos valores que nos definiam, em público, quando os profs mais cruéis anunciavam em voz alta os vintes dos vip’s do costume e depois faziam o contraponto com os falhados da prestação negativa.

Aprendi muito na escola acerca daquilo que ainda hoje mais me prende a atenção, as pessoas. Muito mais do que qualquer matéria, do que qualquer disciplina das que me pintavam como “fundamentais” para o futuro que hoje é o meu presente onde não fazem falta alguma.
Aprendi a adivinhar pensamentos, a antecipar reacções, a moderar expectativas, a assumir as minhas escolhas em função de critérios distintos dos que me ensinavam serem os melhores.
Certo ou errado, o meu caminho foi influenciado pela observação dos outros e consequente incidência da minha preferência pelos programas extra-curriculares.

Fui daqueles alunos que mantinham um rigoroso registo das faltas para evitarem o chumbo por essa via, quantas vezes “tapado” ainda antes do Carnaval e privado de baldas ou de irreverências daí em diante e que me obrigavam a ocupar o tempo de clausura numa sala cheia, isolado na minha cabeça a saborear um dos prazeres possíveis em tais condições.

Um desses prazeres é aquele que partilho convosco, cada pessoa que reserva parte do seu tempo para me ler e/ou observar nesta janela virtual.
E sempre que o faço, roubo tempo ao que deveria ser o fulcro dos meus dias, baldo-me a uma obrigação qualquer das que nos impõe a conformidade com o padrão mais votado na democracia musculada do tem que ser.

E até nisso recolho um prazer acrescido deste fruto proibido que às vezes parece feito de propósito para atrair desilusões e arrelias.
Mas que afinal cumpre vários desígnios e fornece, directa ou indirectamente, diversos tipos de prazer.

O usufruto da liberdade de expressão, de que pouco se falava nos meus manuais escolares que peneirava em busca de factores de interesse, é aquele que continua a prevalecer e justifica esta insistência teimosa.

Mesmo quando a nota na pauta, que a medição nunca nos larga, não soa nada positiva.

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