Foto/Imagem: SharkUm homem a preto e branco encostado a um banco à entrada do hotel.Uma mulher fatal que ao longo da escadaria o contempla, cigarro apagado entre os dedos como isco para o seu anzol sedutor.
O olhar de fogo que lhe deita, isqueiro aceso, enquanto espreita pelo decote indecoroso a tentação mal disfarçada que ela finge ignorada para não se revelar em demasia. A vontade reprimida de cobrir um pouco mais a pele que aquele olhar desnuda, por instantes, mordendo os lábios brilhantes para conter um beijo impulsivo que lhe invade a imaginação.
Um homem a preto e branco enfeitiçado por um momento desenhado à distância pelo mirone no seu estúdio de pintor, no outro lado da rua encharcada de cinzento pelo Inverno que risca no papel com lápis de carvão.
Uma mulher fatal que ao cimo da escada solta uma pequena baforada que o vento obriga a dançar sensual diante do rosto agradável de um desconhecido que ilumina o seu com a chama e depois com o calor de uma expressão.
A cor da emoção, aguarela, espalhada sobre a tela do artista observador. O final de uma história de amor instantânea com a oferta de uma flor espontânea por parte de um homem a preto e branco que vira as costas depois, enquanto sorri, a uma mulher fatal que olha para si enquanto se afasta, sem ele saber, com a expressão de quem sente perder qualquer coisa.
Um homem a preto e branco preparado para enfrentar o temporal, à entrada do hotel onde sonhou um amor impossível.
Uma mulher fatal que não abraçou outro destino e segue o seu caminho para junto de alguém que jamais a soube merecer.
Noutra janela mais um
voyeur, sentado diante de um teclado com uma história fantástica para escrever.